Facebook cria ferramenta de censura para agradar ao Governo chinês

por RTP
Mark Zuckerberg bate palmas à chagada do primeiro-ministro chinês Li Keqiang a uma reunião na Grande Assembleia do Povo, em Pequim Kenzaburo Fukuhara - Reuters

A multinacional norte-americana Facebook tem investido na criação de uma ferramenta confidencial de restrição de conteúdos, preparada para operar na República Popular da China. Segundo o New York Times, a rede social tem vindo a desenvolver um software com o objetivo de bloquear posts em determinados países, de acordo com a sua localização geográfica. Rússia, Paquistão e Turquia são exemplos.

Atualmente o seu principal encargo é alcançar o mercado chinês de 1,4 mil milhões de pessoas, cujo acesso ao Facebook é negado.

A rede social não seria responsável pela restrição dos conteúdos em si, mas ofereceria o programa a uma entidade chinesa para supervisionar os tópicos, páginas e links, censurando e controlando os artigos apresentados aos utilizadores. A novidade surge na própria configuração do recurso: em vez de impossibilitar a entrada em certos teores suprime o seu aparecimento no feed.

Esta iniciativa surge como resposta a uma das preocupações do Governo de Pequim: o livre fluxo de informação é entendido, na China, como precursor de instabilidade política, contrariando a estratégia interna de unidade administrativa.

Hoje a única possibilidade de os cidadãos chineses acederem ao Facebook é através de uma Rede Privada Virtual (RPV) que consegue contornar um vasto sistema de censura, implementado pelo Partido Comunista da China em 1997, conhecido como Great Firewall.

Não é certa a data em que surgiu este novo software de controlo. No entanto, o New York Times avança com a informação de que o projeto se impulsionou em 2015 sob liderança de Vaughan Smith, vice-presidente do Facebook.

Carmen Chang, uma especialista em assuntos chineses e sócia da empresa de capital de risco New Enterprise Associates, referiu, de acordo com o Washington Post, que o aparecimento de um recurso online de censura não surpreende e poderá inclusive ajudar a rede social a avançar para novos territórios e indivíduos.

“O mercado chinês é tão vasto e crítico para tantas empresas que todas procuram formas de entrar e estão dispostas a cumprir” com as limitações na divulgação de informação. Tal como ocorreu com os serviços online Likedin e Evernote.
Um interesse antigo

Segundo o mesmo jornal, na terça-feira a porta-voz do Facebook Debbie Frost declarou num comunicado à imprensa que a multinacional já se interessa pela China há muito tempo e que o objetivo deste novo projecto é ajudar empresas chinesas a expandirem-se através da plataforma de anúncios da rede social.

Apesar de a ferramenta ainda não ter sido lançada comercialmente, intensifica o esforço de Mark Zuckerberg em agradar às políticas chinesas, numa estratégia de aproximação ao Oriente. É importante referir que nos últimos dois anos o CEO do Facebook tem investido numa relação com Xi Jinping, aprendendo Mandarim e visitando frequentemente a República Popular da China, de forma a aumentar a sua visibilidade no núcleo do Governo Chinês.

Esta vontade de ampliação do Facebook para novos mercados mundiais foi reforçada no discurso de Zuckerberg, intitulado The Connectivity of Revolution (A Revolução da Conetividade), proferido durante a conferência da Cooperação Económica Ásia-Pacifico, a 19 de novembro no Peru.

Zuckerberg desafiou o mundo a possibilitar o acesso à internet a todos os indivíduos, repetindo os benefícios económicos consequentes dessa medida.

De acordo com o New China, Mario Mongilardi, presidente da Camara de Comércio de Lima, afirmou que Xi Jinping, na lógica do CEO do Facebook, também tornou claro duramente a sua visita ao Peru que “as reformas da China permitirão empresas estrageiras no mercado chinês”, aproveitando investimentos externos como alavanca de desenvolvimento económico.
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