Samsung e Panasonic acusadas de exploração laboral

por RTP
Kim Hong-Ji - Reuters

A sul-coreana Samsung e a japonesa Panasonic abriram investigações internas após acusações de abuso laboral em fábricas na Malásia. Dezenas de trabalhadores nepaleses afirmam ter sido enganados e explorados pelos gigantes da eletrónica, denuncia o diário britânico The Guardian.

As acusações englobam 30 trabalhadores imigrantes de ambas as empresas que afirmam ter sido enganados em relação aos ordenados, viram os seus passaportes ser confiscados e foram ameaçados de ter de pagar multas no valor de três meses de salário, caso quisessem regressar ao Nepal antes do fim dos contratos.

Confessam também ter sido obrigados a trabalhar de pé durante 14 horas, quase sem pausas para descansar ou ir à casa de banho. “Temos apenas 45 minutos num turno de 12 horas para comer e sete minutos a cada duas horas para beber água”, afirmou um dos trabalhadores que fabrica microondas para a Samsung durante a investigação conduzida pelo Guardian.

Dos trabalhadores da Samsung, apenas alguns são empregados diretamente pela empresa, sendo a maioria contratada por uma empresa de fornecimento de mão-de-obra. Já os trabalhadores da Panasonic são empregados na totalidade por empresas de subcontratação.

Outra queixa comum a todos os afetados é o pagamento de uma “taxa de recrutamento” de até aproximadamente 1.200 euros para assegurarem os seus empregos.
“Se não trabalharem vamos enterrar-vos”
Quando confrontaram os supervisores com as irregularidades, os trabalhadores da Samsung foram ameaçados. “Disseram-nos: Se não trabalharem ou se forem embora sem pagar, vamos enterrar-vos na Malásia”, confessou um dos homens.

Trabalhadores da Panasonic na cidade de Johor Bahru (Malásia) dizem ter recebido apenas 700 ringgit por mês (cerca de 156 euros) – metade do valor que lhes foi prometido - durante uma diminuição na produção resultante de uma falta de encomendas.

À semelhança da situação denunciada este ano sobre a exploração laboral em fábricas da Apple em Tawain, também as condições de habitação dos trabalhadores são alvo de queixa. O Guardian visitou um dos alojamentos numa área industrial em Johor Bahru onde 14 homens vivem no mesmo quarto e partilham a mesma sanita danificada.
O que dizem a Samsung e a Panasonic?
Um porta-voz da Samsung já afirmou que “a empresa obedece totalmente ao Código de Conduta da Electronics Industry Citizenship Coalition [empresa de direitos dos trabalhadores] e não encontrou provas de violações no processo de contratação de imigrantes realizado diretamente através da fábrica na Malásia”.

O gigante sul-coreano está, no entanto, a “conduzir investigações sobre empresas de fornecimento de mão-de-obra com quem trabalha e os imigrantes empregados pelas mesmas”. Caso sejam reveladas quaisquer violações, serão tomadas “medidas de correção imediatas e os negócios com essas empresas serão interrompidos”.

Também a Panasonic anunciou que irá iniciar uma investigação sobre as acusações denunciadas por The Guardian. “Levamos estas denúncias muito a sério e, se descobrirmos que algum dos fornecedores violou de facto as regulações, tomaremos medidas imediatas”.

Ambas as empresas já proibiram as empresas em causa de confiscar passaportes e de cobrar “taxas de recrutamento” aos trabalhadores.
“Fui manipulado”
A utilização de agências de recrutamento e de subcontratação é comum em muitas empresas que usam a Malásia para fabricar produtos. Mas, de acordo com grupos de direitos dos trabalhadores do país, este sistema constitui um um abuso e origina a exploração laboral.

Um dos trabalhadores afirmou que essas empresas “utilizam o nome da Samsung para enganar as pessoas”.

“Não me foi dado o trabalho que me prometeram”, contou ao Guardian uma das vítimas. Outro dos homens confessou que “não teria aceite o emprego se conhecesse as verdadeiras condições e ordenado”. “Fui manipulado”, resumiu.
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