Até esta semana, a presença de forças militares no espaço era sobretudo matéria de livros e filmes de ficção científica. O 45.º Presidente dos Estados Unidos quis ir mais longe. Com a assinatura de Donald Trump, nasceu oficialmente a Space Force, ou força espacial.
Donald Trump assinou na terça-feira a Diretiva de Políticas Espaciais-4 (SPD-4), dando assim ordem para que o Pentágono estabeleça a Space Force como o sexto ramo das Forças Armadas dos Estados Unidos, a par do Exército, da Marinha, Força Aérea, Marines e Guarda Costeira.
Foto: Jim Young - Reuters
Space Force. O que será?De acordo com a Casa Branca, o primeiro objetivo deste novo ramo militar é assegurar e ampliar o domínio norte-americano para lá da Terra. Uma ideia que tem merecido a oposição de diferentes quadrantes. E há mesmo a possibilidade de chumbo, uma vez que cabe ao Congresso aprovar a criação de qualquer novo ramo militar.
Laura Grego, investigadora e cientista no programa de Segurança Global da Union of Concerned Scientists, afirma em comunicado divulgado esta quarta-feira que "O Presidente Trump apreende o espaço como novo domínio de combate. O espaço é importante para os militares, é verdade, mas militarmente falando apenas uma pequena parte deste domínio acontece por lá".
Em 2007, a China lançou um míssil e desintegrou um dos seus satélites inativos. Em 2014, a Rússia colocou em órbita um robô autónomo capaz de se agarrar a satélites.
"Oitenta por cento dos cerca de dois mil satélites são civis, fornecendo comunicações críticas e serviços económicos para o bem-estar da humanidade", acrescenta a investigadora. "Precisamos de cuidar do espaço. Se a concentração de autoridade numa força espacial criar um incentivo para que as nações construam armas espaciais que aumentem a probabilidade de conflito, será uma ideia profundamente má".
Se para uns esta ideia é tão descabida como fazer nascer um muro junto a uma fronteira, para outros faz todo o sentido.
Rússia e China são os dois maiores concorrentes espaciais dos Estados Unidos, bem como potenciais ameaças militares.
Em 2007, por exemplo, a China lançou um míssil que atingiu cerca de 650 quilómetros, num voo que teve como alvo um satélite inativo. O teste foi um sucesso - confirmado por várias estações de observação, incluindo o NORAD.
Num evento semelhante em 2014, um pedaço de suposto lixo espacial russo chamado Objeto 2014-E28 tornou-se um robô autónomo capaz de se agarrar a satélites.
Em 2018, o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, afirmou num dos seus discursos que a China estava a investir em mísseis hipersónicos capazes de escapar à deteção dos satélites norte-americanos. Por sua vez, o Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou ter em mãos um míssil invencível (o Avangard), que viaja 20 vezes mais depressa do que o som.
Factos que levam a Administração Trump a querer acelerar a criação de uma nova força de segurança extraplanetária.
Preservação de satélites
Ainda não é desta que vamos ter naves militares com tropas a patrulhar o espaço, ou à espera de eventuais invasores extraterrestres, como têm sugerido ao longo dos anos os argumentos de diferentes filmes de ficção científica.
A Space Force pretende, por agora, concentrar-se na segurança nacional e na preservação dos satélites e veículos dedicados às comunicações e observações internacionais.
Imediatamente após o anúncio de Mike Pence, em agosto, o Pentágono divulgou um relatório a detalhar algumas das ações imediatas do Departamento de Defesa.
- Estabelecer uma Agência de Desenvolvimento Espacial encarregada de desenvolver e testar novas e melhoradas capacidades de segurança nacional e tecnologia no espaço;
- Estabelecer uma Força de Operações Espaciais, que pretende ser uma coleção de especialistas de todas as Forças Armadas;
- Criar um Comando Espacial dos Estados Unidos, liderado por uma alta patente.
São estes os três componentes que darão forma à Space Force.