Pierre Fresnay e Eric von Stroheim — memórias da Grande Guerra

30 Jun 2018 18:47

Quando vemos agora um filme como “As Guardiãs”, de Xavier Beauvois, não podemos deixar de lembrar uma evidência muitas vezes esquecida: no cinema europeu e, em particular, na produção francesa, o chamado filme de guerra não se ficou pela Segunda Guerra Mundial, abordando com frequência o primeiro conflito mundial, a Grande Guerra de 1914-18. E na galeria de títulos disponíveis, o clássico dos clássicos chama-se “A Grande Ilusão”.

Eric von Stroheim, o cineasta vienense, era um dos nomes grandes do elenco de “A Grande Ilusão”, a par de Jean Gabin e Dita Parlo. A evocação da guerra era feita a partir de uma experiência muito particular. Ou seja: a saga de um pequeno grupo de oficiais franceses, prisioneiros num campo alemão.


Por um lado, o filme mostra-nos as marcas específicas de cada personagem, em particular do lado dos franceses, a arquitectar um esquema de fuga; por outro lado, Renoir sabe mostrar franceses e alemães como entidades que dialogam para além (e, num certo sentido, através) das convulsões da guerra — isso não os torna iguais, muito menos intermutáveis, mas compreendemos que as suas diferenças são, todas elas, humanas, demasiado humanas.

“A Grande Ilusão” surgiu em 1937. Dois anos mais tarde, portanto em 1939, Renoir assinaria “A Regra do Jogo”, outro filme admirável, neste caso ligado à Segunda Guerra Mundial — aliás, não é um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, uma vez que estreou antes da sua eclosão; o certo é que entrou para a história como um objecto premonitório da guerra, de tal modo sabia expor os sinais de decomposição moral e política de toda uma época. São, afinal, dois títulos fundamentais na história do cinema francês, europeu e mundial.

  • cinemaxeditor
  • 30 Jun 2018 18:47

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