Denzel Washington e Viola Davis: um belo objecto de cinema a partir de um grande texto teatral


joao lopes
25 Fev 2017 23:09

Ainda na ressaca da polémica desencadeada há dois anos (a propósito das "poucas" nomeações para os Oscars de "Selma: a Marcha da Liberdade"), o novo filme interpretado e realizado por Denzel Washington — "Vedações" (título original: "Fences") — tende a ser visto, por vezes, como a ilustração de um novo tempo… Desta vez, as personagens afro-americanas são reconhecidas…

Assim é, sem dúvida. Mas seria passar ao lado de tão belo objecto de cinema se menosprezássemos o factor decisivo e, por assim dizer, anacrónico que o sustenta. Esta não é, facto, uma aventura em mundos mais ou menos alternativos, exibindo sofisticados efeitos especiais, mas sim um filme que regressa ao valor primordial das palavras e dos corpos, tendo como fundamental sustentáculo um texto teatral.
Distinguida com um prémio Pulitzer de 1987, a peça "Fences", de August Wilson, é, de facto, um texto primoroso sobre uma família de Pittsburgh, na década de 1950, toda ela marcada pela figura dominante do pai (precisamente a personagem interpretada por Denzel Washington), um homem que trabalha na recolha do lixo — entre a marginalização social e a dependência do álcool, ele protagoniza uma existência cujos sentidos vão, de uma maneira ou de outra, ser herdados pelo filho (Jovan Adepo).
Esta é, afinal, uma viagem através do Sonho Americano, impossível de ser vivida como utopia ou redenção, mesmo se os respectivos valores nunca deixam de marcar o seu trajecto dramático. Denzel Washington e os seus actores — sem esquecer a admirável Viola Davis, no papel da mãe — relançam, assim, o mais depurado classicismo, provando que a sua energia e subtileza continuam a fazer todo o sentido no interior de Hollywood.

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