joao lopes
6 Abr 2019 3:19

Grande acontecimento no mercado cinematográfico: na sua envolvente monumentalidade (mais de 8 horas de duração), "Almas Mortas", de Wang Bing, faz o inventário trágico dos efeitos da purga anti-direitista desencadeada por Mao Tsé-Tung em 1957, enviando milhares de "ultra-direitistas" para campos de reeducação na província de Gansu.

Vale a pena recordar que conhecemos Wang Bing, por exemplo, através de "Três Irmãs" (2012), comovente retrato de três crianças, em frágeis condições de sobrevivência, na província de Yunan. Reencontramos em "Almas Mortas" a mesma pulsão realista, desta vez através do mais clássico dispositivo documental: o registo de depoimentos de sobreviventes da Campanha Anti-Direitista do regime maoísta.
Estamos, afinal, perante uma estratégia documental em que o testemunho oral desempenha um papel decisivo, muito mais do que as imagens "de época". Acima de tudo, Wang Bing define-se como um metódico e obsessivo cineasta da escuta — através das palavras que recolhe, é todo um capítulo histórico que conhecemos, experimentando a intensidade de emoções realmente universais.

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* A apresentação de “Almas Mortas” integra dois fins-de-semana da programação do cinema Monumental (Lisboa) — com este calendário:

> 1ª Parte – 6 de Abril (12h00)
> 2ª Parte – 7 de Abril (12h00)
 
> 1ª Parte – 20 de Abril (12h00)
> 2ª Parte – 21 de Abril (12h00)

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