Fotograma de um dos primeiros filmes dos irmãos Lumière — o cinema estava a nascer


joao lopes
12 Out 2017 21:03

Os Lumière na actualidade? Mas qual a actualidade dos irmãos Auguste Lumière (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948)? Pois bem, é a actualidade de uma herança sem a qual não é possível compreender seja o que for dos mais de 100 anos de história do cinema.

O filme "Lumière!", realizado por Thierry Frémaux, constitui uma pedagógica oportunidade para conhecermos o trabalho pioneiro dos Lumière através de cerca de uma centena dos seus pequenos filmes de um minuto (em rigor: 50 segundos). Em todo o caso, evitemos ceder à facilidade televisiva das efemérides e outras comemorações mais ou menos pomposas. Não se trata de promover uma banal exaltação do passado, mas sim de compreender como o trabalho dos Lumière nos toca, aqui e agora, de alguma maneira levando-nos a relativizar a própria noção de progresso técnico e formal do cinema.

Frémaux, importa lembrar, chega a este projecto por razões muito particulares, cinéfilas e institucionais. Acontece que, além do seu labor como programador do Festival de Cannes, ele preside também ao Instituto Lumière, em Lyon, entidade de grande prestígio internacional que tem desenvolvido uma actividade exemplar na organização, restauro e difusão do património dos Lumière — este filme é mesmo constituído pelos respectivos filmes comentados pelo próprio Frémaux, levando-nos a compreender a riqueza (técnica e formal) dos pequenos filmes rodados entre 1895 e 1905.

Particularmente subtil, e muito sugestivo, é o modo como as palavras em off de Frémaux nos permitem perceber o admirável papel pioneiro dos Lumière. Desde a extraordinária sensibilidade de composição das suas imagens (prolongada pelos operadores que enviaram em missão de "reportagem" para muitos países) até à introdução de insólitos elementos de ficção (por vezes, através de um irresistível humor), os Lumière souberam afirmar o cinematógrafo como uma linguagem realmente nova, a transformar de modo radical a nossa percepção do mundo — o resto, como se costuma dizer, pertence à história.

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