Catherine Deneuve em


joao lopes
30 Mai 2014 2:37

Catherine Deneuve é um caso invulgar de resistência — num sentido artístico, antes do mais: a sua carreira começou há mais de 50 anos e, no entanto, ela persiste como um dos símbolos mais fortes, e também mais sofisticados, do cinema francês.

Já não estamos, como é óbvio, nos tempos de "Os Chapéus de Chuva de Cherburgo" (Jacques Demy, 1964) ou "Belle de Jour" (Luis Buñuel, 1967), títulos que lhe conferiram a dimensão de uma verdadeira star, capaz de transcender fronteiras. Mas quando vemos um filme como "Ela Está de Partida", não podemos deixar de reconhecer a especial magia de uma lógica muito simples: a de saber procurar papéis que se adequem à sua idade.
Desta vez, Deneuve é uma proprietária de um restaurante que, depois da morte do marido e de uma série de atribulações familiares e económicas, vai ser compelida a reavaliar muitos aspectos da sua existência. O filme funciona quase como uma pequena odisseia on the road, com a personagem central a cruzar-se com uma galeria de figuras — incluindo o seu neto (Nemo Schiffman) — que, de alguma maneira, influenciam os seus gestos e atitudes.
"Ela Está de Partida" possui o melhor da grande tradição melodramática francesa, que vai de Jean Renoir a André Téchiné, passando por François Truffaut. A saber: uma delicada capacidade de expor as contradições afectivas dos comportamentos humanos, de acordo com uma visão sempre apoiada no trabalho dos actores. Que a realizadora seja uma actriz, Emmanuelle Bercot, eis o que não será estranho à intensidade dos resultados.

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