Alemanha, 1958 — no interior de um labirinto em que a burocracia pode favorecer o esquecimento


joao lopes
16 Abr 2015 21:05

O título não é uma metáfora, nem sequer uma simples sugestão. Estamos perante uma realidade muito crua e perturbante: "Labirinto de Mentiras" é um filme sobre uma conjuntura em que as verdades mais radicais do Holocausto são recalcadas por todo um estado das coisas em que esquecimento e desconhecimento são favorecidos por muitas forças sociais e políticas.

Mais concretamente, esta realização de Giulio Ricciarelli (um italiano há muito a trabalhar no interior da produção alemã) debruça-se sobre a actividade de um procurador de justiça,  Johann Radmann (Alexander Fehling), que em 1958, com Konrad Adenauer no poder, começa a investigar o facto de um ex-oficial nazi estar a dar aulas a crianças — a partir daí, vai descobrir que muitos dos elementos da máquina de guerra de Hitler não só não foram punidos, como estão "integrados" nas mais diversas actividades, inclusive nas estruturas do estado alemão.



De forma eficaz, "Labirinto de Mentiras" organiza-se como um tradicional inquérito policial em que a personagem de Radmann funciona como aquele que quer saber. Seguimos a sua trajectória — até à identificação e julgamento de muitos dos responsáveis pelo extermínio de centenas de milhares de judeus em Auschwitz —, num processo em que, afinal, dramaticamente, Radmann é levado a confrontar-se com a sua própria ignorância dos factos.

"Labirinto de Mentiras" impõe-se, assim, como um retrato interior de todo um sistema, de uma só vez burocrático e simbólico, montado para fazer "esquecer" os capítulos mais dolorosos da história de uma nação. Nesta perspectiva, este é também um título a incluir numa tendência que, de "Lore" (2013) a "Suite Francesa" (2014), tem procurado revisitar e repensar as cruéis heranças da Segunda Guerra Mundial.

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