Claude Lanzmann no seu filme


joao lopes
23 Jan 2015 3:06

Os 70 anos passados sobre o final da Segunda Guerra Mundial — e, em particular, o assinalar do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (27 Janeiro) — são o pretexto para uma iniciativa com chancela da distribuidora Midas Filmes, envolvendo a estreia de três filmes que, de uma maneira ou de outra, lidam com as memórias do Holocausto.

Num certo sentido, podemos considerar que estes filmes prolongam um fenómeno a que temos assistido em anos recentes — a vontade de revisitar a Segunda Guerra Mundial para além das regras comuns do "filme-de-guerra" — e que passa por produções tão distintas como o recente "Invencível", de Angelina Jolie, a superprodução chinesa "As Flores da Guerra", de Zhang Yimou, ou esse objecto de perturbante intimismo que é "Lore", assinado pela australiana Cate Shortland.

A importância de "O Último dos Injustos", "A Noite Cairá" e "O Homem Decente" é tanto maior quanto, ao reverem e repensarem o Holocausto, integram uma questão fulcral da actualidade cinematográfica e jornalística. A saber: como lidar com os arquivos históricos? Ou ainda, como narrar às novas gerações a Segunda Guerra Mundial e, em particular, como ajudá-las a compreender o horror do Holocausto?



* O ÚLTIMO DOS INJUSTOS, de Claude Lanzmann — É um filme que prolonga o incontornável "Shoah" (1985), com que Lanzmann construira uma memória falada do Holocausto, inventariando testemunhos e revisitando os locais dos campos de concentração construídos pelos nazis. Agora, ele recupera uma entrevista inédita (registada em 1975) com o derradeiro presidente do Conselho Judaico do gueto de Theresienstadt, em paralelo regressando aos cenários do extermínio — é a prova muito real de como a memória nasce de uma permanente dialéctica entre passado e presente, sempre sob o signo revelador da palavra.


* A NOITE CAIRÁ, de André Singer — Uma verdadeira odisseia de imagens e com imagens. Esta é a história do material que os aliados registaram no momento de libertação dos campos de concentração e, depois, da decisão de não mostrar as suas imagens, com receio de desmobilizar os alemães para o esforço de reconstrução do pós-guerra — o trabalho de Singer constitui um exemplo modelar de uma atitude cinematográfica em que o arquivo é, não um lugar inerte, mas um elemento vivo cuja dinâmica, visibilidade ou invisibilidade, importante (re)pensar sempre a partir do nosso presente.


* O HOMEM DECENTE, de Vanessa Lapa — A história de Heinrich Himmler, líder das SS e braço direito de Adolf Hitler, é essencial para compreender a monstruosidade da Solução Final e o Holocausto. Neste caso, essa história surge contada através de um arquivo muito particular — são cartas, diários, fotografias e outros objectos encontrados na residência da família Himmler, no final da guerra. A complexa teia dos factos históricos expõe-se, aqui, através da pluralidade (material e discursivo) dos próprios documentos.

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