Não deixa de ser significativo o número de improvisadores que, noutros tempos, animaram arraiais e festejos na ilha Graciosa. Deles, infelizmente, não existem registos escritos ou gravados das suas cantorias: Artur Lucas, Luís Oliveira, Manuel Pacheco, António Paganegra, Virgílio Barão, Aguinaldo Barão, Victor Vieira, Cândido Estácio, Artur Picanço, José Berto Magalhães (pai), Wenceslau Mendonça, Manuel Florentino Picanço, António Pais, entre outros.
Mas há dois nomes incontornáveis, verdadeiros improvisadores e repentistas que, durante longos anos, foram presença assídua e imprescindível nas cantorias graciosenses: Juventino da Silva Correia (Juventino Ramos) e Manuel Espínola Bettencourt.
Juventino da Silva Correia, popularmente conhecido por Juventino Ramos, nasceu no dia 28 de Outubro de 1941, na freguesia do Guadalupe, ilha Graciosa, e nesta mesma ilha faleceu no dia 21 de maio de 2005.
Desde muito cedo revelou aptidões musicais e poéticas, estreando-se a cantar nos Reis de Natal e de Matança. Agricultor e pequeno comerciante, ele foi, durante muito tempo, o jogral, o trovador, o menestrel da Graciosa, pois que simultaneamente foi poeta, músico e cantor.
Exemplo de autodidacta que soube cultivar-se para além da escola, Juventino Ramos possuía o dom inato dos versejadores, improvisando, cantando e escrevendo versos como quem cultiva a terra.
Como elemento do Grupo Folclórico da Casa do Povo do Guadalupe viajou por todas as ilhas açorianas, Estados Unidos da América (Califórnia), Canadá (Toronto), Porto, Viseu, Mangualde, Algarve e ilha da Madeira.
Um ano após a sua morte, foi publicado o livro Poeta cantador (edição conjunta da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa e da Junta de Freguesia do Guadalupe, com coordenação de Victor Rui Dores), que reúne alguns dos poemas que o cantador foi escrevendo ao longo de uma vida prematuramente interrompida. E, em 2006, a referida Junta de Freguesia fez editar o disco A Voz da Saudade, compilação de extractos de diversas atuações de Juventino ao longo dos anos.
Num bodo de leite, realizado no Guadalupe no dia 2 de Julho de 1999, em cantoria com Manuel Espínola Bettencourt, Juventino Ramos improvisou:
As vacas são a bandeira
Que aqui vamos hastear
Porque sem elas esta feira
Não podia funcionar.
As vacas são os andores
Carregam brincos e argolas
Os santos são os pastores
Que recebem as esmolas.
As vacas quando brincando
Muitas coisas querem dizer
E o pastor que as vai tratando
Bem as pode compreender.
Ai se as vacas falassem
Na sua civilização
Talvez elas chamassem
Aos donos o que eles são.
Há vacas que são bem tratadas
Com muito amor e carinho
Outras levam tantas pancadas
E ainda dão o leitinho.
Numa cantoria com Manuel Espínola Bettencourt, falando da vida dura dos lavradores, Juventino assim improvisou:
A vida de um lavrador
É uma vida amargurada
Não há frio nem calor
Nem sono de madrugada
E é como o pescador
Que leva vida arriscada.
Não há domingo nem feriado
Não há missa nem há festa
Não há casamento nem baptizado
E no seu rosto manifesta
Que para tratar o seu gado
É pouco o tempo que resta.
Nasceu no dia 2 de março de 1930 na freguesia do Guadalupe, concelho de Santa Cruz da Graciosa.
Desde cedo começou a cantar Reis de Natal e de Matança e modas regionais nos bailes que se faziam por toda a ilha. Tendo concluído a 4ª classe, trabalhou toda a vida por conta própria na agricultura e pecuária.
Cantou ao desafio com cantadores da Graciosa e Terceira, sobretudo nas festas de Verão da ilha.
É autor do livro de poemas O Mundo Nunca Descansa (Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, 2002).
Participou nalguns programas da Rádio Graciosa dedicados aos cantadores.
Numa cantoria com Juventino Ramos, no lugar da Vitória, no dia 19 de Julho de 1998, improvisou Manuel Espínola Bettencourt:
Graciosa tem boa gente
É uma ilha bonita
Faz um Carnaval diferente
Recebe muita visita.
Olho no meu espaço
Daqui não está distante
Ofereço o meu abraço
A todo o visitante.
Saúdo os visitantes
Que recebemos em geral
Saúdo os habitantes
Da nossa ilha natal.
És minha ilha natal
Ilha branca e graciosa
No peito de Portugal
És uma pedra preciosa.
Creio que não tenho engano
Lhe quero dar valores
No grupo açoriano
És coração dos Açores.