joao lopes
27 Nov 2016 1:22

Cristi Puiu, Corneliu Porumboiu, Cristian Mungiu… Estes nomes entraram na nossa actualidade cinematográfica e, mais do que isso, têm podido simbolizar uma atitude criativa em que a exigência de realismo se dirige tanto à complexidade psicológica das personagens como ao labirinto das suas relações familiares e sociais — eles são, afinal, a expressão de uma notável renovação temática e formal do cinema da Roménia.

Mungiu será a referência mais forte, quanto mais não seja porque, entre os muitos prémios acumulados pela produção romena nos últimos anos, foi ele que arrebatou o mais sonante: a Palma de Ouro de Cannes, em 2007, com "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias". Agora, ei-lo com outro filme magnífico, "O Exame", também premiado em Cannes, no passado mês de Maio (melhor realização, ex-aequo com Olivier Assayas, por "Personal Shopper").

Mungiu encena o drama de um pai e uma filha, (des)unidos pela urgência dela terminar o seu bacharelato, de modo a garantir uma bolsa de estudo numa universidade inglesa; tudo isso se baralha com elementos de uma violência quotidiana que, afinal, ninguém controla… No limite, Mungiu encena o modo como as relações humanas, mesmo as aparentemente mais seguras, se revelam tocadas por uma fragilidade perturbante.
Por isso mesmo, o realismo está longe de ser uma mera questão de acumulação de detalhes mais ou menos pitorescos. Nada disso. Mungiu é um cineasta que não abdica da irredutibilidade das suas personagens, como quem diz que, afinal, a sua complexidade não cabe no tempo específico de uma ficção cinematográfica — este é um cinema gerado por um olhar exigente, à procura de um espectador que recuse a frivolidade.

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