Hugo Fernandes e Alba Baptista:


joao lopes
23 Jul 2020 20:24

Desde os primeiros momentos, "Patrick" é um filme de um perturbante envolvimento emocional. Através do misto de resistência e vulnerabilidade que perpassa no rosto de Hugo Fernandes, intérprete de Patrick, pressentimos um assombramento cruel, porventura sem solução.

Vivendo em Paris, com o seu namorado mais velho, Patrick administra um site de pornografia adolescente. Quando é preso, instala-se um enigma que a sinopse oficial de imediato esclarece (o que, em termos meramente promocionais, talvez pudesse ter sido evitado). A saber: Patrick é Mário, sequestrado há 12 anos em Portugal…
Seja como for, esse é um pormenor, já que a longa-metragem de estreia de Gonçalo Waddington não se define como um vulgar mistério policial ("quem? como? onde?"), optando antes por um intimismo habitado por muitas emoções, contraditórias e convulsivas. Podemos até definir "Patrick" como a crónica de uma impossível coincidência: como reencontrar em Patrick a história de Mário?
Estamos perante um desafio dramático pouco comum. Assim, não se trata exactamente de regressar, numa espécie de resgate em modo de "flashback", à tragédia vivida pelo pequeno Mário, mas sim de perceber de que modo, ou até que ponto, Patrick transporta essa tragédia como componente visceral do seu presente, da sua frágil identidade.
Daí uma componente essencial da visão de Waddington. Chamemos-lhe uma crise de pertença. Ou em termos especificamente cinematográficos: "Patrick" é um filme de uma personagem em crise, "zombie-de-si-próprio", sempre em conflito, latente ou explícito, com os cenários por onde circula. Ou ainda: não uma personagem reduzida ao destino maniqueísta das ficções telenovelescas, antes alguém, carente de destino, do desejo de um destino, deambulando no mapa incerto da sua solidão.

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