Jamie Lee Curtis — 40 anos depois, o confronto com a mesma ameaça


joao lopes
25 Out 2018 18:35

Sequela ?… Remake ?… Ou ainda essa coisa mais ou menos sugestiva, por vezes, hélas!, completamente postiça, que é um spin-off ?…

Convenhamos que o ambiente cinematográfico está saturado de filmes que tentam rentabilizar sucessos mais ou menos distantes — para o melhor e, sobretudo, para o pior…
Pois bem, o mínimo que se pode dizer do novo "Halloween" é que se assume como clara continuação do primeiro, assinado por John Carpenter, corria o ano de 1978.
Convém sublinhar: continuação. Distanciando-se das derivações produzidas ao longo destas quatro décadas, o realizador David Gordon Green propõe-nos, precisamente, o reencontro com as personagens principais… 40 anos depois.
Michael Myers, o inquietante vulto ainda e sempre representado pelo lendário Nick Castle, consegue fugir da prisão e, literalmente, regressa às origens para assombrar Laurie Strode, a personagem de Jamie Lee Curtis (que teve a sua estreia, precisamente, no filme de 1978), para sempre marcada pelo trauma do que aconteceu há 40 anos.
Trata-se de fazer valer as memórias de uma árvore genealógica cujas componentes excedem os limites mais estreitos do género de terror. Dito de outro modo: a herança de Carpenter está, obviamente, presente. Aliás, Carpenter, ele mesmo, está duplamente presente: como produtor executivo (tal como Jamie Lee Curtis) e autor da música [do] original, agora retrabalhada para uma nova e vibrante banda sonora.

O trabalho de Green — autor de títulos tão interessantes como "George Washington" (2000), "Joe" (2013) ou "O Senhor Manglehorn" (2014) — terá os limites de um exercício que nunca tenta descolar-se das referências, ambiências e estilo do próprio Carpenter, incluindo os serenos movimentos de câmara a descobrir o cenário em profundidade.
Ao mesmo tempo, esses limites definem a postura eminentemente cinéfila de quem não se remete a um labor mecânico de copista. O projecto envolve a celebração das potencialidades de uma linguagem que, como se prova, admite as mais sugestivas variações.
Nesta perspectiva, "Halloween"/2018 é um objecto algo fora de moda, prescindindo das soluções infinitamente repetidas de sequelas e afins. Não é todos os dias que uma parábola sobre a violência (des)humana se afirma através de uma hábil gestão das tensões do espaço e das ambivalências do tempo.

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