A composição de Tilda Cobham-Hervey é o melhor de uma biografia convencional


joao lopes
16 Out 2020 22:33

O filme "I Am Woman" ficou como uma espécie de testamento acidental da cantora australiana Helen Reddy. De facto, a sua estreia ocorreu na Austrália, a 28 de Agosto de 2020, tendo Reddy falecido um mês mais tarde, a 29 de Setembro, contava 78 anos.

Na verdade, a sua herança não será muito conhecida das gerações mais novas, nessa medida importando reconhecer que o filme, dirigido por Unjoo Moon, realizadora também australiana, tenta, pelo menos, que a sua figura seja enquadrada na época da sua fama — em particular, precisamente, através de "I Am Woman", canção que lhe valeu um Grammy de melhor intérprete pop.

É um facto que, sobretudo nos EUA, "I Am Woman" acabou por se tornar um "hino" dos movimentos feministas da década de 1970. O que, em qualquer caso, não justifica que o filme se apresente todo ele contaminado por um vício "panfletário", cada vez mais frequente em biografias cinematográficas deste género.
Digamos que estamos perante o síndrome "Bohemian Rhapsody". O subtítulo português, "A Voz da Mudança", apenas reforça tal simplismo — como se as personagens, obrigatoriamente "heróicas", apenas existissem como símbolos mais ou menos redentores.
Seja como for, e apesar de tudo, sublinhemos dois aspectos: primeiro, a presença das próprias canções que, na sua singularidade, permitem perceber que não era fácil a afirmação do estilo de Reddy num contexto de mercado ainda muito marcado pelas revoluções musicais dos anos 60 e, em especial, pela herança dos Beatles; depois, a competência da composição de Tilda Cobham-Hervey, garantindo, pelo menos, que a sua Helen Reddy é uma pessoa viva e contrastada, não um mero emblema para ornar uma "bandeira".

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