Scarlett Johansson em defesa da ordem do futuro — da BD para o cinema


joao lopes
31 Mar 2017 0:43

Não se pode dizer que a temporada Primavera/Verão de 2016 tenha sido muito compensadora na área dos chamados "blockbusters". E não só porque a maioria dos seus lançamentos deixou a sensação de que há filmes que deixaram de se preocupar com a arte de contar histórias, existindo apenas através do trabalho mais ou menos (des)organizado dos respectivos departamentos técnicos. Também porque faltaram personagens que consigam algo mais do que destruir uma cidade inteira com um espirro…

Digamos, por isso, que "Ghost in the Shell – Agente do Futuro" consegue o mais básico. A saber: sustentar uma verdadeira personagem, de nome Major, algures entre o humano e o cyborg que percorre uma trajectória dramática para decifrar os enigmas da sua origem. Mais do que isso: a realização de Rupert Sanders consegue também a proeza simples, mas essencial, de construir uma verdadeira (e interessantíssima) arquitectura cenográfica.
Interpretada de forma sóbria por Scarlett Johansson, Major emerge, assim, como uma vigilante de um futuro mais ou menos apocalíptico em que todos os parâmetros sociais estão marcados por uma dinâmica que, por assim dizer, contaminou a biologia através da tecnologia. No limite, todos os seres humanos passaram a integrar "apêndices" mais ou menos sofisticados que baralharam todas as matrizes de todas as identidades.
Produção partilhada por americanos (Paramount + Amblin), indianos (Reliance) e israelitas (Arad Productions), "Ghost in the Shell" é mais uma variação no universo vastíssimo de uma franchise de origem japonesa (BD, televisão, jogos de video, cinema). Na sua origem está uma banda desenhada (manga) de Shirow Masamune, iniciada em 1989. Vale a pena recordar que o seu universo, a meio caminho entre as tradições da ficção científica e do "thriller", já estivera na base de uma magnífica longa-metragem de animação, dirigida por Mamuro Oshii e lançada em 1995 — eis o respectivo trailer.

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