Amir Jadidi (à direita) é o excelente intérprete principal do novo filme de Asghar Farhadi

15 Jul 2021 0:53

O iraniano Asghar Farhadi é um daqueles "habitués" de Cannes que, em boa verdade, não desilude: com altos e baixoa, a sua obra define-se por uma requintada atenção aos contrastes dos comportamentos humanos. Mais do que isso: a sua capacidade de retratar cenas do quotidiano do seu país nunca retira aos seus filmes, antes pelo contrário, um forte apelo universal.

Ei-lo de novo na competição com "Un Héros", filme centrado numa excelente composição de Amir Jadidi. Ele interpreta um homem que tenta superar uma verdadeira quadratura do círculo: está preso por causa de uma dívida que não pagou e aproveita dois dias de licença para tentar convencer o credor que o denunciou a aceitar o pagamento de uma parte da dívida, ao mesmo tempo retirando a queixa…

Há qualquer coisa de "policial" nas intrigas de Farhadi, no sentido em que tudo acontece através de um jogo de exposição e ocultação, que vai das personagens individuais até às instituições estatais. Neste caso, o protagonista evolui no interior de um labirinto de factos, suposições e insinuações em que dois factores pesam de modo decisivo: os laços familiares (e os seus silêncios) e a burocracia estatal (e os seus impasses). Sem esquecer as diferenças masculino/feminino.

O impacto emocional de "Un Héros" é tanto maior quanto os hiatos de explicação do que está a acontecer não são percalços do argumento. São, isso sim, elementos que fazem parte das dinâmicas sociais e familiares, como se todos temessem a revelação de alguma verdade demasiado radical — grande cinema feito sem ostentação, prosseguindo o seu minimalismo dramático.

  • cinemaxeditor
  • 15 Jul 2021 0:53

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