História de uma solidão russa
Matvey Novikok sob a direcção de Andrey Zvyangintsev — um retrato da Rússia do presente

Cannes 2017  

História de uma solidão russa

A secção competitiva do 70º Festival de Cannes arrancou com um belo filme vindo da Rússia, assinado por Andrey Zvyagintsev: "Loveless" é a crónica dramática de uma teia de muitas solidões.

Trailer/Cartaz/Sinopse:
 História de uma solidão russa
Loveless - Sem Amor Boris e Genia estão a divorciar-se. Boris tem um relacionamento com uma jovem grávida e Genia namora com um homem que parece pronto a casar-se com ela. Nenhum deles parece ter interesse em Alyosha, o filho de ambos, com 12 anos de idade. Até que a criança desaparece.
Média Cinemax:
4.167

O primeiro filme da competição de Cannes/2017 vem da Rússia e chama-se "Nelyubov" — ou "Sem Amor" (de acordo com o título internacional "Loveless"). Se dissermos que a sua personagem pivot é Alyocha, um rapaz de 12 anos que vai viver de forma dramática o divórcio dos pais, poderemos deixar um resumo esclarecedor: estamos perante a história radical de uma solidão capaz de abalar a estabilidade do quotidiano familiar e social.

Em todo o caso, convém acrescentar que tal condição solitária está longe de ser uma componente que coloque o rapaz no centro dos acontecimentos. Esta é a história de uma solidão estranhamente abrangente que se espalha como um vírus — é verdade que o pai e a mãe de Alyocha encontram novos companheiros, mas não é menos verdade que nada disso mascara o facto de cada um dos adultos se identificar por uma solidão ainda maior.

Já conhecíamos o realizador Andrey Zvyagintsev através de vários títulos capazes de dar conta dos movimentos de bastidores da sociedade russa, quase sempre encenando personagens com importante "simbolismo" familiar e até político — lembremos os casos exemplares de "Elena" (2011) e "Leviatã" (2014). Este "Loveless" confirma a sua capacidade de manter essa visão, de novo contando com um fascinante leque de actores.

Maryana Spivak é notável na composição da mãe, sendo também forçoso destacar Matvey Novikov e Andris Keishs, respectivamente como Alyosha e o pai. No limite, eles emergem como peças centrais de um gosto realista que Zvyagintsev tem sabido consolidar de forma sofisticada e, por assim dizer, pedagógica — o seu filme apresenta-se como um retrato do aqui e agora russo, construindo a partir de uma fundamental atenção às contradições do comportamento humano.

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publicado 23:46 - 17 maio '17

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