3 Abr 2015 16:42

O presidente honorário do Festival de Cannes, Gilles Jacob, amigo e admirador da arte de Manoel de Oliveira, afirmou o seu pesar e disse sentir-se "um órfão".

"Tristeza. O meu querido Manoel morreu. Manoel de Oliveira tinha 106 anos e eu fiquei órfão como todo o cinema mundial. Ele era um cavalheiro", afirma Jacob, o presidente honorário do festival, na sua conta na rede social Twitter, noticia a Efe.

"Passados os cem anos, tínhamo-nos acostumado à ideia de que Manoel nunca desapareceria", disse Jacob, de 84 anos, que, em 2008, entregou ao realizador português a Palma de Ouro pela carreira do cineasta português.

Fica a obra, é certo, "mas ficou claro que ele também" seria eterno, disse Jacob, que, durante seu longo mandato como selecionador dos filmes do Festival, estreou muitos da "criação prolífica" de Manoel de Oliveira.

Em 2008, Jacob agradeceu – e agradecer foi o verbo escolhido pelo presidente do festival -, com a Palma de Ouro, a contribuição de Oliveira para a Sétima Arte, o seu trabalho "sempre imprevisível", o seu "mistério de frescor e vitalidade", a sua "modéstia lendária" e, "de certa maneira, o facto de ser o último pioneiro", disse Jacob, recordando a criação do cineasta em filmes mudos.

Gilles Jacob dirigiu o festival de Cannes de 2001 a 2014, permanecendo como presidente honorário do certame, ao qual se mantém ligado desde 1978, sempre com responsabilidades ao nível da programação.

Paulo Branco, produtor de vários filmes de Manoel de Oliveira, incluindo "Francisca" e "Vale Abraão" é citado no jornal francês Libération: "Para mim, ele era o nosso grande cineasta nacional, que começou nos anos 30, com "Douro" (1931), um filme sublime".

"Devo-lhe tudo. Cada filme era uma aventura em si mesmo", acrescentou. Paulo Branco afirmou também que o reconhecimento do cineasta "foi mais internacional".

Há uma frase de João César Monteiro resume tudo: "A obra de Manoel de Oliveira é demasiado grande para Portugal ou o país é muito pequeno para a sua obra", acrescentou.

O cineasta português Mário Barroso, diretor de fotografia de vários filmes de Manoel de Oliveira e ator em "O Velho do Restelo", disse à Lusa que "a obra do Manoel está feita e essa será para sempre".

"Quem perde imenso são as pessoas que o conheceram muito. Neste momento, a morte de Manoel de Oliveira é sobretudo chocante para as pessoas que com ele conviveram, que tinham com ele uma relação de amizade, ternura, simpatia, respeito. Essa é que é a grande perda. Agora, não sei se o cinema perde alguma coisa. O cinema já ganhou muito com ele. O cinema e nós todos", afirmou.

O realizador de cinema João Botelho disse hoje, no Porto, que aprendeu com Manoel de Oliveira que "o cinema é muito mais importante do que os filmes".

"Ensinou-me que o cinema é um ponto de vista, é um modo de filmar, não é o que se passa, nem quando se passa, não é a história", disse João Botelho sobre Manoel de Oliveira.

O cineasta lembrou "uma frase lapidar" de Oliveira que disse ter-lhe servido para a vida: "não há dinheiro para a carruagem, filma a roda, mas filma bem a roda". "Prostitui-te para arranjar dinheiro para o filme, prostitui-te quando ficar pronto para o mostrar, nunca quando filmas", acrescentou.

João Botelho considerou, ainda, que Manoel de Oliveira "levou o cinema com ele para o céu, porque hoje os filmes estão todos no inferno dos centros comerciais".

Ricardo Trêpa, neto de Oliveira, lembra que "Os portugueses sabem a pessoa que o meu avô é, foi e continuará a ser através do seu trabalho. É um homem que fez muito por Portugal", disse o também ator, que trabalhou diversas vezes com Manoel de Oliveira.

"E é com uma profunda dor que nos despedimos hoje dele", acrescentou, lembrando que "o Manoel teve uma grande vida, pôde fazer todos os filmes que quis, ou quase todos [e] conseguiu filmar até aos 106 anos, porque há 15 dias esteve num último trabalho".

O realizador Manoel de Oliveira, que morreu hoje aos 106 anos, foi de uma "resistência incansável em defesa da ideia do cinema como arte", disse à agência Lusa o diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa.

"Não é só um grande nome do cinema português, foi um dos grandes nomes de todo o cinema moderno. Nas décadas recentes representa uma resistência incansável em defesa da ideia do cinema como arte, contra a ideia de cinema como produto comercial e mesmo como produtor cultural", sublinhou.

O músico Pedro Abrunhosa lembrou hoje o cineasta Manoel de Oliveira como um "homem de profunda ironia" e "arrojo cinematográfico" que afirmou Portugal no cinema europeu e cuja morte "fica diluída na obra imensa" que fica.

"Aos 106 anos, o homem com uma obra com esta envergadura conseguiu ter uma voz no cinema europeu e afirmou Portugal de uma forma inequívoca. Com uma visão única que o coloca ao nível do maior arrojo cinematográfico, o Manoel cumpriu-se aos olhos dos homens e dos deuses que nunca deixou de provocar", assim o descreveu o músico que em 1999 fez parte do elenco do seu filme "A Carta".

O fundador do Fantasporto, Mário Dorminsky, disse hoje que o cineasta Manoel de Oliveira foi um "marco" no cinema mundial e um precursor do neorrealismo italiano, com "Aniki Bóbó", e do documentário, com o filme "Douro Faina Fluvial".

 "É um marco no cinema em termos históricos", declarou à Lusa Mário Dorminsky, referindo que o cineasta Manoel de Oliveira foi um "visionário" e um "precursor" do "neorrealismo italiano", com o filme Aniki Bóbó (1942), por ter trabalhado com atores não profissionais. "Creio que o Manoel de Oliveira nos deu muito (…) Ao longo de 60 anos deu a imagem de Portugal de um país de cultura, mas que na verdade é um país inculto", declarou à Lusa, emocionado, referindo que Manoel de Oliveira é um marco pela "sua idade" e "pela sua vontade de viver e de trabalhar".

A presidente da Associação Portuguesa de Realizadores, Margarida Gil, considerou que o cinema de Manoel de Oliveira tornará eterno o cineasta que hoje faleceu aos 106 anos.

Para Margarida Gil, Manoel de Oliveira é uma das grandes figuras do pensamento português, por ter refletido "como poucos" sobre a condição humana. "

O Presidente da República recordou hoje Manoel de Oliveira como "símbolo maior do cinema português no mundo" e apontou o realizador como "um exemplo para as novas gerações" pela forma como sempre foi capaz de ultrapassar as dificuldades.

"Foi com profundo pesar que tomei conhecimento da morte de Manoel de Oliveira, símbolo maior do cinema português no mundo e um dos nomes mais significativos na história da 7.ª Arte. Portugal perdeu um dos maiores vultos da sua cultura contemporânea que muito contribuiu para a projeção internacional do País", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, numa mensagem que leu no Palácio de Belém.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, expressou, em seu nome pessoal e em nome do Governo, pesar pela morte do cineasta Manoel de Oliveira e considerou que a cultura portuguesa perdeu uma das suas figuras maiores.

"O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, em seu nome pessoal e em nome do Governo de Portugal, expressa público pesar pelo falecimento de Manoel de Oliveira. A Cultura portuguesa perdeu hoje uma das suas figuras maiores", lê-se numa nota divulgada pelo gabinete do chefe do executivo PSD/CDS-PP.

  • cinemaxeditor
  • 3 Abr 2015 16:42

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