Estreias
No labirinto da lei
Baseado no romance homónimo de Ian McEwan, "A Balada de Adam Henry" relança as qualidade de uma tradição britânica que se faz de realismo social e subtileza dramática.
Fionn Whitehead e Emma Thompson — um filme sobre a lei, os afectos e as relações sociais
Trailer/Cartaz/Sinopse:
A Balada de Adam Henry
À medida que casamento com Jack (Stanley Tucci) se desmorona, a eminente juíza do Supremo Tribunal, Fiona Maye (Emma Thompson), tem de tomar uma decisão difícil no seu trabalho – é seu dever forçar um adolescente, Adam (Fionn Whitehead), a receber a transfusão de sangue que lhe irá salvar a vida? A visita pouco ortodoxa da juíza ao hospital onde se encontra Adam tem um impacto profundo nos dois, ...
É bom saber que a tradição britânica ainda é o que era. Que é como quem diz: há, continua a haver, no cinema britânico um misto de realismo social e subtileza dramática que se vai renovando através de trabalhos que, além do mais, reflectem as qualidades invulgares de intérpretes com sólida formação teatral.
"A Balada de Adam Henry", baseado no livro homónimo de Ian McEwan, é mais um sólido exemplo dessa tradição, tanto mais envolvente e perturbante quanto se centra num caso com delicadas repercussões morais e legais: esta é a história de um jovem (Fionn Whitehead) que sofre de leucemia, não querendo aceitar uma transfusão de sangue devido às suas convicções religiosas, e da juíza (Emma Thompson) que irá decidir se, apesar da sua resistência, o hospital deve avançar com o tratamento...
Estamos, afinal, no interior do labirinto da 'Lei das Crianças' do sistema britânico (é esse, aliás, o título original de livro e filme: "The Children Act"). Trata-se de saber como é que o aparelho legislativo consegue equilibrar a liberdade individual, os valores sociais e a defesa da vida. Tudo isso, importa acrescentar, numa dinâmica em que os mais inusitados elementos afectivos vão contaminar as relações das personagens centrais.
Também encenador teatral e televisivo, o realizador Richard Eyre possui o know how necessário e suficiente para tirar o máximo partido do seu brilhante elenco (lembram-se do jovem Whitehead em "Dunkirk", de Christopher Nolan?), contornando sempre a possibilidade de transformar a sua história num panfelto mais ou menos abstracto. Ponto, por certo, não secundário: foi o próprio McEwan que fez a rigorosa adaptação do seu romance.
Crítica de João Lopes
publicado 23:12 - 21 setembro '18