Escavações arqueológicas "envelhecem" mais de 100 anos o Castelo de São João Batista

por Lusa

Ponta Delgada, 09 ago (Lusa) -- Os restos arqueológicos de estruturas encontrados por investigadores no Castelo de São João Batista, na ilha de Santa Maria, permitem recuar mais de 100 anos na datação desta fortificação, que é uma das mais antigas dos Açores.

"Até agora, a datação do castelo era do século XVII, pois os investigadores datavam-no por uma muralha que estava à vista, mas as novas escavações permitiram encontrar uma muralha soterrada que nos leva a admitir a raiz da construção no século XVI e, muito provavelmente, na segunda metade do século XV", revelou hoje o investigador Élvio Sousa, em declarações à Lusa.

Élvio Sousa, que coordena o projeto EAMA (Estudo da Arqueologia Moderna dos Açores), salientou que "em 2008 foram feitas escavações no interior da torre que permitiram constatar, pelas fundações, que ela seria anterior ao século XVII", o que acabou por ser confirmado na atual campanha arqueológica, que decorre até 17 de agosto.

Nesta campanha, que começou a 5 de agosto, os investigadores das universidades Nova de Lisboa e dos Açores, "encontraram uma construção junto à torre, uma muralha com uma largura de 90 centímetros que pertencia à estrutura defensiva do torreão".

Segundo o investigador, que está a participar na quarta campanha arqueológica naquela fortificação desde 2008, "este indício, que estava soterrado", permite recuar a datação que até agora era feita.

Estes novos dados, segundo Élvio Sousa, revelam "sustentadamente o recuo de mais de 100 anos na antiguidade da fortificação, o que redesenha a arquitetura do forte".

Élvio Sousa salientou ainda que, apesar de a ilha de Santa Maria ter sido "muito fustigada por corsários que levaram muita documentação histórica", os trabalhos arqueológicos ali realizados permitiram encontrar objetos, como "botões ou alfinetes", que permitem "recriar o quotidiano num determinado período histórico".

O investigador defendeu a necessidade de se preservar o forte, que "está cada vez mais desestabilizado", alertando que, "em março, ruiu uma parte" desta fortificação.

Nesse sentido, salientou que se pretende realizar "um levantamento tridimensional do forte" para permitir uma comparação com outras fortificações existentes nas Canárias (Espanha) e em África, "onde existe uma presença portuguesa".

Élvio Sousa revelou ainda que, numa conferência que será realizada na segunda-feira em Vila do Porto, será divulgada uma carta da ilha de Santa Maria datada da segunda metade do século XVI, descoberta no Arquivo Histórico de S. Paulo, no Brasil, onde "está referenciada a vigia da Praia Formosa".

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