Governo de transição critica Ramos-Horta, Filipe Nyusi e Marta Temido
O Governo de transição da Guiné-Bissau criticou hoje o Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, o ex-Presidente moçambicano Filipe Nyusi e a eurodeputada portuguesa Marta Temido pelas análises sobre a situação atual do país.
Numa declaração partilhada nas redes sociais, o ministro da Comunicação Social do Governo de transição, Aduramane Turé, começou por dizer que "há timorenses que não têm emenda" e que o Presidente, Ramos-Horta, é um desses casos.
"No passado, ele e os seus camaradas da Fretilin [Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente] agitaram a ideia de fundar um Estado timorense comunista. Essa loucura histórica provocou a invasão de Timor-Leste pela Indonésia. Depois, a Guiné-Bissau teve um papel de destaque no movimento de solidariedade com Timor, então ocupado", contextualizou o ministro, referindo as relações históricas entre as duas comunidades lusófonas.
"A diplomacia guineense e as Forças Armadas da Guiné-Bissau foram as instituições mais relevantes na articulação dessa solidariedade guineense com o povo de Timor-Leste", acrescentou.
Para o governante, tratar "de forma leviana e desrespeitosa os militares guineenses e, por extensão, o próprio povo guineense, revelam um claro afastamento da verdade objetiva dos factos" históricos.
"Ramos Horta traiu a responsabilidade moral que lhe é exigida enquanto figura pública, que foi um símbolo da paz", declarou.
O executivo guineense respondeu assim às declarações de quarta-feira proferidas por Ramos-Horta à Lusa, em que este disse ser impossível ficar indiferente à arrogância de uma fação militar que não deixa a Guiné-Bissau ter um rumo normal e que é óbvio que Sissoco Embaló perdeu as eleições.
O ministro guineense disse ainda que Ramos-Horta devia questionar o ex-Presidente moçambicano Filipe Nyusi - que liderou a missão de observação eleitoral da União Africana à Guiné-Bissau -, cujas declarações Bissau considera que "ultrapassaram claramente os limites da tolerância, do bom senso e da prudência diplomática".
Filipe Nyusi tinha declarado, a 4 de dezembro, que existia um vencedor no escrutínio eleitoral de 23 de novembro e que este deveria ser anunciado.
Por fim, o representante do executivo guineense referiu também, no discurso de hoje, que ao "coro de posições precipitadas junta-se de forma igualmente preocupante a eurodeputada portuguesa Marta Temido".
"Ela [Marta Temido] esqueceu-se, ou ela esquece, que a Guiné-Bissau não está sob tutela de ninguém, nem da União Europeia e, menos ainda, de Portugal", acrescentou, referindo também que a eurodeputada "ofendeu a dignidade do povo guineense com as suas declarações patéticas, esquecendo-se das relações históricas de amizade e cooperação entre o povo guineense e o povo português".
"Como é que esta senhora (...) ainda não percebeu que era preferível calar-se do que pedir sanções contra a Guiné-Bissau, país amigo de Portugal?", frisou.
Para si, apenas compete à Comissão Nacional Eleitoral "preparar, controlar e declarar os resultados eleitorais".
"A Guiné-Bissau não precisa de julgamento precipitados, nem de ameaças, menos ainda de lições de moral que não recebe de ninguém", concluiu.
A eurodeputada afirmou que a Guiné-Bissau vive a "rutura do seu Estado de direito" e "uma campanha de terror", durante o seu discurso de quarta-feira Parlamento Europeu (PE).
Já hoje, o PE aprovou uma resolução em que condena a mudança inconstitucional na Guiné-Bissau e insta o Conselho Europeu a ponderar a imposição de medidas restritivas aos responsáveis pelo golpe de Estado e violações dos direitos humanos.
Timor-Leste assumiu terça-feira a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), estatuto retirado à Guiné-Bissau na sequência de uma cimeira de chefes de Estado e de Governo.
O país já tinha sido suspenso da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e da União Africana.
A oposição e figuras internacionais têm afirmado que o golpe de Estado foi uma encenação orquestrada por Umaro Sissoco Embaló, por alegadamente ter sido derrotado nas urnas, impedindo assim a divulgação de resultados e mandando deter de forma arbitrária diversas figuras que apoiavam o candidato que reclama vitória, Fernando Dias.
Entre estes está Domingos Simões Pereira, presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), enquanto Fernando Dias está refugiado na embaixada da Nigéria em Bissau.