Novo livro de Helder Macedo "Romance" apresentado em Lisboa

por Lusa

O novo livro de Helder Macedo, "Romance", que é um poema mantendo a estrutura narrativa, "um sonho", "com ecos da realidade presente", como explicou o autor à agência Lusa, é apresentado quarta-feira, na Casa dos Bicos, em Lisboa.

Referindo-se a "Romance", Helder Macedo afirmou que "a narrativa vai através de uma especulação onírica, uma espécie de sonho que não se sabe muito bem quem está a sonhar e o quê e, dentro disso, há como que ecos da realidade presente, aquilo que está a acontecer, os horrores, o tumulto de guerra, que vão chegando aquela situação mais ou menos adormecida daquelas pessoas que estão acordadas, e que estão a viver".

Segundo o autor, pode dizer-se que é um "romance iniciático", na medida em que tenta "ir ao centro de qualquer coisa que está entre a vida e a morte".

"Para ser franco, de início não sabia que ia ser em poema. Embora seja um poema, é uma narrativa. Aliás, pensava que ia ser uma narrativa mais convencional, uma novela, um romance, mas a certa altura percebi que, como a ação se passa num tempo onírico, um mundo de sombras, de sonhos, que a poesia era o mais adequado para o que queria dizer, mantendo a estrutura narrativa", contou o autor.

Para Macedo, este é um "romance" que era "nome que se dava a um certo tipo de poesia, nos séculos XV e XVI, nomeadamente de Bernardim Ribeiro. Aliás, em epígrafe, na abertura de cada capítulo de `Romance`, há uma citação deste poeta".

O escritor, a viver em Londres, considera que este novo livro "irá surpreender os leitores". "É diferente tanto quanto da ficção, como da poesia, que fiz até agora", justificou, reconhecendo que arriscou em escrever este livro, "Romance", que "é diferente de tudo o que se tem feito".

"Aos 80 anos posso e devo arriscar, até porque não valeu nunca a pena repetir modelos, e acho que devo correr o risco".

Na quarta-feira, pelas 18:30, na sede da Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos, em Lisboa, é apresentado "Romance", pelo jornalista António Cabrita, e "Resta ainda a face", uma antologia de 32 poemas de amor, escolhidos e `posfaciados` pelo escritor Paulo José Miranda, que apresenta a obra.

Sobre "Resta ainda a face", Helder Macedo afirmou que a proposta de Paulo José Miranda o apanhou de surpresa, e que o "livro também é dele".

"Ele escolheu os [poemas] que entendeu, no âmbito da temática amorosa, e ordenou-os conforme achou, sem qualquer intervenção da minha parte", disse.

Helder Macedo recordou que se estreou como poeta, em 1957, com a publicação do livro "Vesperal". "Comecei com poesia, mas não sou um poeta militante, na medida em que não escrevo diariamente poesia, e tenho publicado muito mais ficção que poesia, principalmente desde o romance `Partes de África` [1991]".

Helder Macedo publicou também várias obras de ensaio, nomeadamente na área da Literatura, com destaque para os poetas Bernardim Ribeiro, Luiz de Camões e Cesário Verde - este último foi tema da sua tese de doutoramento.

O escritor nasceu na África do Sul, viveu em Moçambique, até aos 12 anos e, em Portugal, até 1959. Helder Macedo colaborou com a BBC, de 1960 a 1971, licenciou-se em Literatura e História e doutorou-se em Letras, na Universidade de Londres, onde lecionou no King`s College, desde 1971, tendo sido Catedrático de Português, de 1982 a 2004, e onde é atualmente "Emeritus Professor of Portuguese".

No próximo dia 28 organiza-se, na Universidade de Oxford, em Inglaterra, um colóquio sobre a obra de Helder Macedo, em parceria com a Universidade de Coimbra.

Sobre a série de iniciativas que se tem organizado, quando está a completar 80 anos, o escritor disse à Lusa que, não sendo "um escritor de que se lembrem muito", têm sido "muito generosos" todos os que se têm empenhado nas diferentes iniciativas.

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