A menina que lia para esquecer a guerra já saiu de Alepo

por Marcos Celso - RTP
Não são nuvens... @AlabedBana, Reuters

O Mundo conheceu os seus relatos, os receios da guerra em Alepo. A destruição sobrepôs-se aos sonhos e, por vezes, foi ao contrário. Mas agora a menina de Alepo está feliz por ter deixado a cidade, ou o que resta dela, para trás.

Ficou mundialmente conhecida pela menina de Alepo. Bana Alabed, a criança síria com sete anos ia relatando no Twitter o seu dia-a-dia, igual ao de outras crianças a quem foi imposto um cenário bélico, de destruição e de morte.

A notícia chegou neste dia 19 de dezembro: Bana conseguiu sair de Alepo:

 I escaped from East #Aleppo. - Bana
Durante os últimos meses, a menina contou com a sua mãe, Fatemah Alabed, para relatar o que os seus olhos viam e os seus ouvidos escutavam em tempos de guerra: as bombas e os horrores conviveram com esta menina que gostava de ler Harry Potter para esquecer o que os homens fizeram na sua rua, cidade e e arredores. 

Bana e a sua mãe chegaram mesmo a enviar um video à primeira dama norte-americana, Michelle Obama, a quem pediam ajuda para o que se estava a passar na Síria.

Esta segunda-feira foi o presidente da Sociedade Médica Sírio-Americana, Tarakji Ahmad, a dar a boa nova da saída de Bana, além de seus seus pais e irmãos, da cidade em ruínas, Alepo. O Governo turco conhece a felicidade desta família ao deixar para trás um cenário de guerra, e já disponibilizou uma casa para Bana e família.

Bana, o medo e a falta de esperança

Ainda há uma semana, a criança relatava que o seu pai fora ferido. Tristeza era o sentimento que a assolava, acompanhada de um choro sofrido de quem não compreende por que motivo as coisas são assim. A falta de esperança e de quem já não acreditava na vontade humana eram visíveis em novo tweet.
      
Final message - I am very sad no one is helping us in this world, no one is evacuating me & my daughter. Goodbye.- Fatemah #Aleppo Em novembro último, entre bombardeamentos e preces, a menina relatava como tinha perdido dois dentes, algo que a deixava algo feliz, tal como acontece com as crianças a quem é dada a oportunidade de serem isso mesmo, crianças.

Bana mostrava, com fotos, que não eram nuvens a pairar sobre a sua casa, era sim, fumo das bombas.



Ao mesmo tempo ia apelando ao Mundo que interviesse, pois estavam crianças inocentes a morrer, adultos também. Bana descrevia que os seus irmãos queriam ler Harry Potter com ela, dizia ainda que sentia que a sua infância fora roubada. Uma mistura de complexos sentimentos.

Agora que se sente mais a salvo, Bana e família expressam via Twitter o seu desejo de que a Síria possa encontrar a paz, e que quem ainda se encontra em Alepo possa sair com sucesso através dos planos de evacuação que estão em curso. Um desejo verdadeiro de quem olha para uma guerra onde a inconsciência humana não tem limites.
                




pub