Políticos franceses querem inglês fora da UE como língua oficial

por Lusa
Vincent Kessler - Reuters

Os puristas franceses nunca aceitaram bem o facto do inglês lhes ter sido imposto e alguns aproveitaram o Brexit como uma forma de se livrarem da língua de Shakespeare, pelo menos na sede da União Europeia.

Quando o choque da decisão de sair da UE começou, dois políticos franceses pediram que o Reino Unido, antes de ir embora, levasse a sua língua consigo.

"A língua inglesa já não tem qualquer legitimidade em Bruxelas", escreveu na rede social Twitter o autarca de extrema-direita de uma cidade do Sul de Beziers, em França, Robert Menard.

O desprezo pela língua inglesa pareceu atravessar todos as divisões políticas, quando o político de extrema-esquerda `Partido de Esquerda`, Jean-Luc Melenchon, escreveu também no Twitter: "O inglês já não pode ser a terceira língua oficial do parlamento europeu".

Vários utilizadores da rede social perguntaram a Menard e Melenchon o que é os irlandeses que falam inglês iriam falar caso aquela língua desaparecesse.

Menard lembrou que a primeira língua da Irlanda era oficialmente o gaélico. A União Europeia tem 24 línguas oficiais e de trabalho.

Em 2014, um relatório da empresa de treino de línguas internacional Education First revelou que a França era o país da União mais fraco no que diz respeito à língua inglesa e que "fazia pouco esforço para melhorar".

"Melhorar as competências de inglês do país não é um tema de debate nacional. Apenas haveria debate público, se fosse proposto que o inglês tivesse alguma importância oficial", lê-se no relatório.

Apesar do estereótipo de que os franceses se coíbem de falar inglês, muitos jovens franceses querem melhorar as suas competências e adotaram muitos anglicanismos na linguagem do dia-a-dia.

"Nós sabemos que chove muito em Inglaterra e que em França estão a chover anglicismos", disse a Academia Francesa na sua página na Internet -- que acompanha de perto o aumento de palavras inglesas na linguagem francesa, como os `brainstorming` e `briefing` usados pelos empresários.

"Sem o Reino Unido, não temos o inglês"

O inglês poderá deixar de ser língua oficial no Parlamento Europeu (PE), caso não sejam alterados os regulamentos, na sequência da saída do Reino Unido da União Europeia, notou a eurodeputada responsável pela comissão dos assuntos constitucionais.

Numa conferência de imprensa, em Bruxelas, Maria Hubner (Partido Popular Europeu) notou as alterações que serão necessárias devido à vitória do 'Brexit' no referendo a nível das instituições, como a alteração, por unanimidade, dos regulamentos para que o inglês possa continuar a ser uma língua oficial.

A eurodeputada polaca explicou que um país pode notificar os serviços de uma língua oficial de trabalho, tendo o Reino Unido a apresentar apenas o inglês, já que a Irlanda avançou com o gaélico e Malta com o maltês.

"Sem o Reino Unido, não temos o inglês", comentou a Maria Hubner, explicando ainda que, ao contrário da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, não há normas legais que impeçam os eurodeputados britânicos de participarem nos trabalhos.

"Não há bases legais para excluir alguém do PE", precisou a responsável pela comissão parlamentar que trata de assuntos institucionais, acrescentando que os eurodeputados têm a responsabilidade de "representar os cidadãos da UE e não apenas dos seus países".

A eurodeputada polaca do grupo parlamentar que inclui o PSD e o CDS-PP lamentou ainda os "acontecimento xenófobos" de ataques a polacos e portugueses no Reino Unido.

"São acontecimentos xenófobos preocupantes, que infelizmente não acontecem apenas no Reino Unido", lamentou a parlamentar, recordando estudos académicos que demonstram que os emigrantes polacos, portugueses e romenos têm "pagado mais impostos para o tesouro do que recebido benefícios".

O Parlamento Europeu vai reunir-se na manhã de terça-feira para debater o resultado do referendo do Reino Unido e votar uma resolução, que segundo Maria Hubner deverá ter a versão final esta noite e que passará pela defesa da "necessidade de reformas na UE e de finalizar o processo" de saída do Reino Unido.

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