Ulisses Correia e Silva: dívida excessiva aumenta risco de Cabo Verde e reflete-se na economia

por Lusa

O novo primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, que sexta-feira toma posse, defende que a dívida pública cabo-verdiana é excessiva e aumenta o risco do país com reflexos na economia e na vida das famílias.

O líder do Movimento para a Democracia (MpD), que ganhou as eleições legislativas de março com maioria absoluta, vai herdar um país entre os 20 mais endividados do mundo, uma situação que considera "extremamente preocupante" e a que só se poderá fazer face com crescimento económico.

"Estamos a falar de uma dívida de 120 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Muita dessa dívida é concessional, com taxas de juros baixas e prazos de pagamento muito largos, mas o problema da dívida excessiva é um problema de risco do país. E quando o risco é elevado, transporta-se para a economia e, é por isso, que temos os bancos a concederem crédito com taxas de juro mais elevadas e com mais custos", disse Ulisses Correia e Silva em entrevista à agência Lusa.

O futuro primeiro-ministro, que considera a "situação extremamente preocupante", assinala que, no final, quem acaba por pagar esta dívida excessiva são as famílias e as empresas.

Segundo os dados mais recentes do FMI sobre Cabo Verde, citados pelo ainda primeiro-ministro José Maria Neves (PAICV), a dívida pública está estimada em 121% do PIB, mas "dentro da sustentabilidade", e o défice público deve chegar a 4,5% em 2015, o que coloca o país entre as 20 economias mais endividadas do mundo.

São números que não surpreendem o chefe do Executivo indigitado, para quem só há duas formas de fazer face à situação: colocar a economia a crescer e reduzir o défice orçamental.

" Fazer o país crescer a taxas muito superiores às que temos. A taxa, desde 2009, é de 1,4 por cento, mas Cabo Verde tem oportunidades de crescer a taxas muito mais elevadas. Há um contexto externo, que é difícil, mas há oportunidades", defendeu.

O "motor do crescimento económico" será o turismo, que, defendeu, "num contexto externo de dificuldades tem estado a crescer"

"É nossa meta fazer com que o fluxo de turistas cresça, mas cresça também com mais qualidade e possa deixar mais rendimento para a economia nacional", disse.

Defendeu, por outro lado, a necessidade de "reduzir a cadeia de endividamento" através da redução do défice orçamental que tem que ser "mais contido".

"Trabalhando nesses setores e tornando o Estado mais eficiente estaremos em condições de fazer com que o peso da dívida se vá reduzindo e vá reduzindo o seu impacto sobre a economia", disse.

"Há procura externa por Cabo Verde. O problema de Cabo Verde não é um problema de crise internacional, o problema de Cabo Verde é falta de atuação -- e foi durante este tempo todo -- sobre os fatores internos, que criam estrangulamentos ao crescimento e ao desenvolvimento", disse Ulisses Correia e Silva.

O até agora líder da Oposição aponta entre esses fatores a "forma de exercício do poder e a sua relação com a administração, com as empresas e a sociedade" ao longo dos 15 anos de maiorias absolutas do Partido Africano da Independência da Cabo Verde (PAICV).

A questão dos transportes é outro dos problemas identificados por Ulisses Correia e Silva, que terá entre mãos difícil situação da empresa de Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), com problemas financeiros e uma imagem fortemente degradada pelo arresto de um avião por dívidas e pelos sucessivos atrasos e cancelamento de voos.

Sobre este assunto, Ulisses Correia e Silva adiantou à Lusa que a primeira medida será a substituição do atual Conselho de Administração da companhia, avançando depois para a reestruturação financeira e para a recuperação da imagem da empresa.

Ulisses Correia e Silva considera ainda como fundamental dar garantias de confiança, estabilidade, segurança jurídica e previsibilidade aos investidores, além de algumas medidas de estímulo fiscal e redução de impostos, que o novo chefe do Governo não garante contudo possam entrar já em vigor este ano.

"Vamos ter um orçamento praticamente de seis meses e vamos analisar que margem de manobra temos para implementar" as referidas medidas, disse.

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