Cavaco Silva alerta para tempos de incerteza

por RTP

FOTO: Manuel Almeida, Lusa

O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, afirmou esta sexta-feira na mensagem de Ano Novo que se vive um tempo de incerteza e que há um modelo político, económico e social a defender, que é aquele que vigorou nas últimas décadas.

Na sua última mensagem de Ano Novo como chefe de Estado, Cavaco Silva considerou que a sociedade civil portuguesa "tem por adquiridos os princípios da liberdade e da democracia, identifica-se com os valores civilizacionais do Ocidente e com o modelo de desenvolvimento económico e social da Europa".

Mais à frente, o Presidente da República acrescentou: "Vivemos um tempo de incerteza. Temos o dever de defender o modelo político, económico e social que, ao longo de décadas, nos trouxe paz, desenvolvimento e justiça".

"Temos de renovar o contrato de confiança entre todos os portugueses, aquilo que constitui a maior razão para acreditarmos num futuro melhor, para nós e para os nossos filhos. Com esperança no futuro, desejo aos portugueses - a todos os portugueses - um feliz Ano Novo", concluiu.

Nesta mensagem, Cavaco Silva deixou uma nota de apelo ao combate às desigualdades e à pobreza, e outra a favor do acolhimento dos imigrantes que querem integrar-se em Portugal.

"É fundamental combater as desigualdades e as situações de pobreza e exclusão social, que afetam ainda um grande número de cidadãos: os idosos mais carenciados, os desempregados ou empregados precários, os jovens qualificados que não encontram no seu país o reconhecimento que merecem", declarou.

Sobre as migrações, o chefe de Estado referiu que, "ao longo da história, muitos milhares de portugueses partiram para o estrangeiro em busca de melhores condições de vida" e que, "há quarenta anos, Portugal acolheu muitos milhares de portugueses vindos das antigas colónias de África".

"Temos, assim, o dever de acolher aqueles que nos procuram para se integrarem na nossa sociedade, partilhando connosco os valores e princípios de que nunca abdicaremos: a democracia e a liberdade, a tolerância e a dignidade da pessoa humana, o respeito pela nossa cultura e pelas nossas tradições", defendeu.

Segundo Cavaco Silva, "numa Europa marcada por tensões e conflitos, onde em várias paragens emergem pulsões extremistas e xenófobas, Portugal deve afirmar a sua identidade universalista, o espírito com que, há mais de 500 anos, deu novos mundos ao mundo".

Logo no início da sua mensagem, o antigo primeiro-ministro e presidente do PSD disse que o Ano Novo "é sempre um tempo de incerteza, mas também de esperança", acrescentando: "Olhamos o futuro sem saber o que este nos trará".

Depois, Cavaco Silva reforçou esta ideia de dúvida em relação ao que o futuro trará, dizendo que os portugueses no seu conjunto são o "grande motivo de esperança num tempo de incerteza".
Elogio ao país que poucos conhecem
Cavaco elogia "o país real que muitos agentes políticos desconhecem"

O Presidente da República elogiou ainda "o país real" que disse ter conhecido de perto nos últimos dez anos, mas que considerou ser desconhecido por muitos políticos e subvalorizado, e declarou-se confiante na "ambição patriótica" dos portugueses.

O Presidente Cavaco Silva falou dos roteiros que fez pelo país nos seus dois mandatos, disse ter encontrado uma sociedade civil portuguesa dinâmica em tempos difíceis e deixou o seu "mais profundo agradecimento" aos "portugueses que hoje estão a construir Portugal", na ciência, nas empresas e nas artes.

"Este não é um país imaginário. Este é o Portugal do presente, que encontramos bem vivo de Norte a Sul, no litoral e no interior, nas regiões insulares, nas comunidades da diáspora. Este é o país real, o país verdadeiro, que muitos agentes políticos desconhecem, que a comunicação social tantas vezes ignora e que conheci de perto durante os meus mandatos", declarou, considerando que "os portugueses que estão a fazer Portugal nem sempre são reconhecidos ou valorizados como merecem".

Segundo o Presidente da República, todos os portugueses com que contactou estão unidos por um "profundo amor a Portugal", por uma "ambição patriótica" que permitirá construir "um país melhor, solidário e com mais justiça social", precisando para isso da colaboração do Estado.

"Os portugueses que estão a fazer Portugal não exigem o impossível nem pedem muito ao seu país. Pedem apenas que o Estado crie condições para que possam desenvolver o seu trabalho e, depois, que os poderes públicos não estabeleçam entraves à sua atividade, desde a criação de emprego e riqueza até à defesa do património e do ambiente, passando pela inovação social e tecnológica", defendeu.

A dois meses do fim do mandato, Cavaco Silva aproveitou esta mensagem de Ano Novo para falar dos seus dez anos como Presidente da República.

O chefe de Estado recordou que o seu primeiro roteiro, em 2006, foi dedicado à inclusão social, referiu que procurou "acima de tudo, valorizar os bons exemplos" e que percorreu "o país inteiro", esteve "com as comunidades da diáspora" e contactou com "milhares de portugueses".

"São esses portugueses - todos vós, todos os portugueses - o nosso grande motivo de esperança num tempo de incerteza", acrescentou.

"Jovens cientistas e investigadores de excelência, empreendedores económicos, sociais e culturais, dirigentes associativos, instituições de solidariedade e voluntários, artistas e criativos talentosos, é este imenso Portugal que se afirma no presente e se projeta no futuro de uma forma extraordinária", reforçou.


c/ Lusa
pub