O debate de Catarina Martins e Passos em cinco capítulos

por Christopher Marques - RTP
Pedro A. Pina - RTP

Catarina Martins e Pedro Passos Coelho estiveram esta sexta-feira frente a frente na RTP Informação. Os dois líderes mostraram discordar em praticamente tudo. Catarina acusou Passos de não apresentar números, acusou-o de "insensibilidade social". Passos recorreu ao exemplo grego, defendeu que os sacrifícios "não nos atiraram ao chão" e considerou que o discurso de Catarina Martins não passa disso mesmo.

O debate começou focado na venda do Novo Banco, depois de o grupo chinês Fosun ter desistido do negócio. A porta-voz do Bloco considerou que o adiamento da venda é “oportuno” para o Governo.
Novo Banco
“O Governo oportunamente reconduziu Carlos Costa e Carlos Costa, oportunamente, retirou da campanha eleitoral este peso ao Governo”, referiu. Catarina Martins reclama que há muito que continua por explicar no processo. “O Governo oportunamente reconduziu Carlos Costa e Carlos Costa, oportunamente, retirou da campanha eleitoral este peso ao Governo”

O Governo, que Catarina acusa de “insensibilidade social”, “encolhe os ombros quando vê que a situação do Novo Banco pode fazer subir o défice dois pontos”, quando “nem uma décima o défice podia subir” para falar de salários, pensões e apoio aos desempregados.

“Tanto empobrecimento para depois vir a banca e o favor à banca sempre. A forma má de lidar com a banca sempre: prejudicar mais o país e pesar mais nas contas públicas”, acusou, tendo solicitado a Passos para que peça desculpa ao país.
Veja aqui o debate entre Catarina Martins e Passos Coelho na íntegra

O primeiro-ministro não pediu desculpa. Passos Coelho reafirmou que cabe ao Banco de Portugal vender a instituição e voltou a garantir que os contribuintes não irão perder dinheiro com o Novo Banco. Passos explicou que o Governo não é acionista do Novo Banco e que será o sistema financeiro a suportar o prejuízo.

O primeiro-ministro referiu ainda que o Governo é “preso por ter cão e por não ter”, tendo sido apontado pela imprensa como tendo pressa para vender o banco e agora criticado pelo Banco de Portugal ter adiado a venda.“O PSD não aprendeu nada com a crise financeira, nem aprendeu nada com o assalto que foi o BPN”

“Não temos pressa nenhuma, nem estamos a influenciar esta decisão”, garantiu.

Catarina Martins criticou ainda o Governo por ter chumbado todas as propostas do Bloco de Esquerda para impedir novas situações do setor financeiro como as verificadas com o BPN e o BES.

Críticas ainda por ter elogiado Dias Loureiro e escolhido Rui Machete para ministro.

“O PSD não aprendeu nada com a crise financeira, nem aprendeu nada com o assalto que foi o BPN” que antes tinha classificado de “gangsterismo”. “É exatamente ao contrário, senhora deputada”, respondeu Passos, frisando que o Governo não aceitou nacionalizar o BPN.

O chefe de Governo criticou aliás o Bloco por ter desejado a nacionalização do BES.

A nacionalização do Banco Português de Negócios “custou até hoje aos contribuintes 2,7 mil milhões de euros”, estimando Passos que o custo final possa superar os cinco mil milhões de euros. “Isto não acontecerá com o BES. Isto é cristalino”, garantiu o primeiro-ministro.Sacrifícios "não nos atiraram ao chão"

Ouvidas as críticas e opiniões no que respeita ao BES, o debate avançou para as consequências da austeridade e dos sacrifícios impostos aos portugueses. Pedro Passos Coelho assumiu que os últimos quatro anos envolveram muitos sacrifícios, insistindo que quem os trouxe foi a crise e não foram os sacrifícios que trouxeram a crise.

Passos frisou que não foi ele a pedir a ajuda financeira internacional e que tem havido “de 2013 até hoje” uma recuperação da economia. “Os portugueses sentem que hoje podemos ter uma perspetiva de futuro”, afirmou o chefe de Governo. “Podemos dizer que estes sacrifícios fizeram algum sentido, não nos atiraram ao chão”.


Catarina Martins criticou o aumento da dívida pública, “duas vezes e meio superior ao previsto no memorando” e relembrou que o PSD também negociou o memorando. “Sabia bem ao que vinha, disse que não ia fazer empobrecer o país e depois fez empobrecer o país”, acusou a porta-voz do Bloco de Esquerda.

Segurança Social
Feita a crítica aos últimos quatro anos, Catarina Martins avançou para a Segurança Social, afirmando que o debate com Paulo Portas não o deixou esclarecida.

Perante a ideia de plafonamento das pensões, inscrita no programa da coligação, a deputada questionou: “Se quem ganha mais deixa de descontar tudo para a Segurança Social, como se faz com o buraco que fica nas contas?”. “Se quem ganha bem mais deixa de descontar tudo para a Segurança Social, como se faz com o buraco que fica nas contas?”

Passos não viria a avançar com números, como Catarina Martins fez questão de frisar já no fecho do debate. A deputada, armada com um livro escrito por Passos Coelho, acusou o governante de conhecer os custos da medida e de os ocultar.

Passos explicou que a proposta da coligação prevê “fixar um limite a partir do qual o Estado não se responsabiliza com o pagamento de pensões”.

“É uma medida que funciona numa base voluntária, quem quiser pode continuar a descontar para a segurança social”, esclareceu.


Passos Coelho defendeu que o objetivo é que o Estado não tenha de garantir, no futuro, pensões muito grandes. “Isto só se aplicará a pensões mais elevadas, nunca abaixo de 2.500 ou 3.000 euros”. Em resposta, Catarina Martins defendeu que este regime vai beneficiar quem mais ganha.“Estou convencido, ainda mais fiquei depois do debate com António Costa, que não será difícil" chegar a consenso com o PS

A porta-voz do Bloco de Esquerda acredita que Passos quer cortar em pensões ou aumentar contribuições para gerar a já famosa poupança de 600 milhões de euros, inscrita no Programa de Estabilidade e Crescimento.

Passos voltou a garantir que não haverá um corte nas pensões e mostrou-se comprometido a encontrar alternativas de financiamento.

“Estou convencido, ainda mais fiquei depois do debate com António Costa, que não será difícil encontrar um conjunto de soluções” entre a coligação e o Partido Socialista, referiu mesmo Passos.
A Grécia e o Bloco
Passos acusou Catarina Martins de ter o princípio "irrealista" de "que a realidade não interessa", sendo apenas relevante “financiar o crescimento”. “Esse é o discurso próprio de quem nunca a perspetiva de vir a governar ou tomar decisões”, lançou o primeiro-ministro. Passos entrava assim no tema da Grécia.

Para Passos, o discurso de Catarina Martins é apenas discurso e exemplificou com a mudança de postura do Syriza de Alexis Tsipras na Grécia. “O Dr. Passos Coelho quando não quer responder vai para o passado ou para outra zona geográfica”, criticou.


Passos insistiu que se Portugal tivesse seguido o exemplo grego teria pedido um segundo resgate. Catarina acusou o Governo português de se ter unido a Madrid e Berlim para “esmagar qualquer possibilidade de alternativa na Grécia”.

“O programa que está a ser imposto à Grécia é mau para a Grécia, mau para a Europa. Não é o nosso programa, é o seu programa”, atacou a responsável do Bloco.

Dívida
O Bloco de Esquerda insistiu na necessidade de reestruturar a dívida pública nacional. Catarina Martins considerou que o problema da dívida não foi resolvido, classificando a dívida de “impagável”.

Para Passos, esta é uma “aventura total” e garantiu que tudo fez para a impedir. O primeiro-ministro referiu ainda que esta posição abriria a porta à saída do euro, uma outra “aventura total”.

Pedro Passos Coelho defendeu que a dívida portuguesa aumentou 30 mil milhões de euros, valor que diz aproximar- se dos valores dos juros pagos referentes a dívida passada. “Desde 2013 que não estamos a acrescentar dívida, porque não estamos a gerar dívida dentro do país. Só estamos a gerar dívida para pagar juros de dívida do passado”.


Passos sublinhou que é preciso não ter défices para reduzir dívida, tendo destacado que “é exatamente aquilo que a senhora deputada, nestes quatro anos, achou mal”.
“Os portugueses não se esquecerão que o Bloco de Esquerda se recusou a ter sequer qualquer reunião com a troika”

Passos garantiu que houve negociações duras com as instituições, sempre para defender os interesses de Portugal. “Os portugueses não se esquecerão que o Bloco de Esquerda se recusou a ter sequer qualquer reunião com a troika”, apontou o líder do PSD.

Catarina Martins respondeu que o Bloco de Esquerda reuniu sete vezes com a troika e acusou Passos de “fazer de conta” que tem um programa.

No fim do debate, Pedro Passos Coelho foi questionado sobre as acusações de que está a fugir à comunicação com os portugueses, inclusivamente não tendo ainda respondido ao convite da RTP para uma entrevista.

“Estou a ponderar fazer essa resposta brevemente”, esclareceu, acrescentando que a RTP foi a única estação a quem não deu entrevistas este ano.
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