JORGE PALMA por João Carlos Callixto

27 Jul 1975 - "Monólogo de um Cidadão Frustrado"

Jorge Palma, o músico de hoje no “Gramofone”, é um dos mais aclamados em Portugal, mas muitos desconhecem os primeiros passos da sua carreira. Na juventude, fez parte de diversos grupos, como os Dandy, os Black Boys, os Jets ou os Extravaganza. No entanto, será com o Sindicato que mais se notabiliza, vindo essa formação a ficar em 2º lugar no Festival Pop da Costa do Sol de 1969.

O grupo edita o seu único disco em 1971, no mesmo ano em que se apresenta ao vivo no grande Festival de Vilar de Mouros (com a presença de Elton John e dos Manfred Mann’s Earth Band). Pouco depois, o Sindicato encerra actividades, e Jorge Palma começa uma auspiciosa carreira a solo.


O seu primeiro registo, “The Nine Billion Names of God” (1972), revela desde logo um músico que funde a força da música rock com uma escrita mais confessional, como se viria a confirmar nos trabalhos seguintes. Este seria aliás o único disco de Palma inteiramente gravado em inglês.

No mesmo ano de 1972, Palma dá também os primeiros passos como arranjador e director musical para outros artistas, trabalhando com nomes tão díspares como Rui de Mascarenhas, Amália Rodrigues, Tonicha, Pedro Barroso ou Paco Bandeira. Os arranjos originais de um clássico do fado como “Meu Corpo”, imortalizado por Beatriz da Conceição, são também de Jorge Palma, em 1975, e por si interpretados no sintetizador.



Neste ano da nossa gravação de hoje, realizada para o mesmo programa “Bóbi” onde já aqui vimos os Petrus Castrus, Palma tinha participado em Fevereiro no Festival RTP da Canção com duas canções: “Viagem”, a solo, e “O Pecado Capital”, com Fernando Girão. O primeiro álbum, “Com uma Viagem na Palma da Mão”, chegaria em Setembro de 1975, e é nele que encontramos este “Monólogo de um Cidadão Frustrado”.

Estávamos ainda bem longe da “estrada do sucesso”, mas a aprendizagem de Palma com Ary dos Santos, que dera frutos logo em 1973 no EP “A Última Canção”, tinha definitivamente feito inflectir o rumo do músico para um espectro lírico mas também sonoro cada vez mais abrangente. Sempre com o rock na alma, é um verdadeiro cantautor omnívoro, para quem todas as músicas populares – mas também a erudita – fazem parte de uma paleta a que nos queremos sempre encostar.