O 11 de Março 40 anos depois: entrevista com Dinis de Almeida

por António Louçã/Pedro Pina/Nuno Patrício

Hoje coronel reformado, com actividade profissional como psicólogo, Eduardo Dinis de Almeida teve um papel decisivo na resposta ao bombardeamento e cerco da sua unidade, o RAL-1, no contexto da tentativa golpista de 11 de Março de 1975.

Seria difícil que um depoimento prestado à RTP quarenta anos depois pudesse acrescentar alguma coisa importante aos três densos e documentados volumes que Dinis de Almeida publicou sobre os 19 meses de revolução, vulgo PREC. E, no entanto, este depoimento torna-se especialmente elucidativo em alguns pontos que o correr do tempo foi diluindo na memória colectiva.

Desde logo, torna-se claro que o diálogo empreendido pelo líder da defesa do RAL-1 com as forças sitiantes não foi mero expediente para ganhar tempo e permitir que a erosão do moral dos páraquedistas alterasse a seu favor uma correlação de forças difícil.

Foi em muitos círculos popular e corrente a imagem de um RALis atacado, bombardeado a partir do ar, cercado, tendo sofrido danos materiais, feridos e um morto (na foto), além de inferiorizado pelo factor surpresa que beneficia quem toma a iniciativa.

Bem pelo contrário, Dinis de Almeida traça-nos o quadro de uma unidade muito preparada para a eventualidade de um ataque; e o quadro de uma força atacante, ela sim, surpreendida tanto pelo forte dispositivo de defesa que encontrou em torno do quartel como pela rapidez fulminante da resposta. Mesmo os helicópteros encontraram uma reacção de fogo antiaéreo que rapidamente os colocou em perigo.

Os aviões Fiat e T-6, por seu lado, não podiam bombardear indiscriminadamente um terreno em que as forças páraquedistas, segundo a sugestiva expressão do entrevistado, se encontravam "enoveladas" com as forças defensoras do RAL-1. A densidade do dispositivo de defesa nas imediações do quartel atava as mãos aos meios aéreos do golpe.

A descrição desse entrosamento entre defensores e sitiantes, estes surpreendidos por vezes à distância de um andar do mesmo prédio, constitui um dos aspectos mais importantes da entrevista.

E, no entanto, não se trata de fazer uma apreciação "militarista" dos factores de decisão da contenda. Dinis de Almeida explica na entrevista a importância que teve a localização do quartel, próximo de Sacavém, para rapidamente mobilizar a seu favor a população operária daquela zona da cidade.

A determinação com que o RAL-1 se defendeu e a contribuição decisiva que deu para o fracasso do golpe fizeram do regimento o grande vencedor do dia, só acompanhado nesse papel pela Vª Divisão. Mas também o tornavam uma bête noire das forças que começaram a emergir na noite de 11 para 12 de Março e que tiveram o seu zénite na jornada de 25 de Novembro de 1975.

Dinis de Almeida, vencedor do 11 Março, seria durante vários meses um dos prisioneiros do 25 de Novembro. Varela Gomes, outros dos vencedores de Março, seria durante vários anos um dos exilados de Novembro. Entrevistados ambos para este dossier, evocam as particularidades da perseguição que sofreram.



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