Conversa Capital com Paulo Duarte, presidente da Associação Nacional das Farmácias

por Antena1

Há 400 farmácias envolvidas no processo de testagem e a Associação Nacional de Farmácias acredita que o número pode triplicar se houver necessidade.

Em entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, o presidente da ANF, Paulo Cleto Duarte, diz que as farmácias podem fazer cerca de 25 mil a 30 mil testes por dia, incluindo os novos testes de saliva, quando forem disponibilizados. O presidente da ANF acredita mesmo que o governo vai avançar com uma primeira linha de testagem rápida, assente no trabalho das farmácias, à semelhança do que se passa desde há uma semana em França. Paulo Duarte defende que, enquanto não for possível ter vacinas para todos, deve intensificar-se o processo de testagem permanente.


Esta situação, acredita o presidente da ANF, permitiria levar a vacinação às empresas com mais frequência, evitando que fechassem e criando mais segurança para uma reabertura mais rápida da economia. Com as farmácias a testar e a gerir o processo.


Em resposta ao novo coordenador do plano de vacinação e às críticas do seu antecessor, que não contava com as farmácias para o plano de vacinação, o presidente da ANF diz que concorda que as farmácias só sejam chamadas para as fases seguintes da vacinação, porque nesta altura, sem vacinas suficientes, não faz sentido alargar os locais onde pode ser feita a toma da vacina.


As farmácias, afirma, não olham para o processo de vacinação como uma oportunidade de negócio mas sim como um contributo para a saúde pública. Não querem ter lucro mas esperam que pelo menos os custos sejam cobertos. Lembra o que aconteceu com a vacina da gripe e com o apoio que estão a dar às 20 mil pessoas que precisam de medicação e não se podem deslocar aos hospitais, para dizer que "é chantagem emocional e até hipócrita", as farmácias estarem sujeitos a uma lógica de saúde publica como estão, e não existir por parte do governo uma resposta para as compensar pelos custos.


Paulo Duarte adianta que não há falta de vontade em integrar as farmácias, tem havido é incapacidade de organização e planeamento. Considera que o governo reconhece o papel da farmácia, agora e no futuro. No entanto, admite que neste momento, por parte do governo há "muita vontade " em planear uma intervenção mais estruturada na vacinação e na testagem.

Quanto ao futuro, Paulo Duarte considera que o que está para vir, relativamente aos doentes não COVID, vai obrigar a um investimento e uma mobilização de recursos, ainda maior do que aquilo que foi preciso para a pandemia. Isto porque, segundo refere, serão precisos pelo menos 3 anos para recuperar. Diz que esse pós pandemia não está a ser preparado e sugere que seja criada uma estrutura autónoma, só focada nos doentes não COVID e na retoma.

Paulo Duarte revelou nesta entrevista que a situação financeira das farmácias se agravou no último ano. Vinte e cinco por cento da rede está em sofrimento financeiro e há mais 40 farmácias em processo de insolvência ou ao abrigo de planos de recuperação. Lembra que as farmácias tiveram custos acrescidos de operação com a pandemia, que não imputaram aos clientes, e quebras de faturação a rondar os 70 por cento. As farmácias do interior e as que estavam em grandes centros, muito dependentes do turismo, foram as que sofreram mais.


O presidente da ANF lembra que as medidas de apoio económico que o governo implementou não se aplicam às farmácias e reivindica que as empresas em processo de insolvência possam recorrer também ao apoio do Estado.

Uma entrevista conduzida pelos jornalistas Rosário Lira, da Antena1 e Pedro Curvelo do Jornal de Negócios.
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