Agropecuária e agricultura intensivas aumentam riscos para a saúde humana

por Lusa

Redação, 04 mai 2020 (Lusa) -- O abuso de antibióticos na agropecuária e o grande número de animais e pouca diversidade genética, devido a técnicas intensivas, aumenta o risco de os patogénicos se tornarem um grande problema de saúde pública, dizem investigadores.

A conclusão é de um estudo hoje divulgado, em plena crise mundial devido a um novo coronavírus, que provoca a doença covid-19. Os autores do estudo lembram que nos últimos anos vários vírus e bactérias patogénicas mudaram de espécies de animais selvagens para humanos, como o HIV, que veio dos macacos, o H5N1, que veio dos pássaros, ou o novo coronavírus SARS-CoV 2, que se suspeita tenha origem em morcegos.

O estudo foi feito por uma equipa internacional liderada por cientistas britânicos das universidades de Bath e de Sheffield. A equipa investigou a evolução da bactéria "campylobacter jejuni", que é transportada por gado e outros animais e que é a principal causa de gastroenterite nos países mais desenvolvidos.

A bactéria causa diarreia (que pode ser com sangue), febre e dor abdominal e ainda que não seja tão grave como outras pode levar a problemas maiores a pessoas com outros problemas de saúde, e algumas vezes tem de ser combatida com antibióticos. Não é tão perigosa como outras baterias como E.coli, febre tifoide ou cólera.

É transmitida através do consumo de carne, incluindo a de aves, ou pelo contacto com pessoas ou animais infetados, e atinge uma em cada sete pessoas em algum momento da vida, causando três vezes mais casos do que a E.coli, salmonela ou listeriose juntas.

Os autores do estudo lembram que a "campylobacter jejuni" é transportada nas fezes das galinhas, dos porcos, dos bovinos e de animais selvagens e estima-se que esteja presente nas fezes de 20% do gado de todo o mundo. E que é muito resistente aos antibióticos devido ao uso destes na agricultura.

A investigação, publicada na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences", concluiu que a estirpe específica dos bovinos aumentou ao mesmo tempo que cresceu exponencialmente o número de vacas no século XX.

Os autores defendem que as mudanças na dieta, anatomia e fisiologia dos bovinos levaram a transferência de genes entre estirpes gerais e específicas do gado, o que ajudou a bactéria a atravessar a barreira das espécies, infetando os humanos.

Aliado a esta situação a globalização levou a que os animais fossem transportados para distâncias muito maiores, e as práticas agropecuárias tornaram-se intensivas, fatores que favoreceram a disseminação da bactéria.

"Estima-se que haja no planeta 1,5 mil milhões de bovinos, cada um produzindo cerca de 30 quilos de estrume por dia. Se cerca de 20% deles transportarem a ´campylobacter´ tal representa um enorme risco em potência para a saúde pública", disse Sam Sheppard, da Universidade de Bath.

E acrescentou: "O nosso trabalho mostra que as mudanças ambientais e o aumento do contacto com os animais de explorações agrícolas causaram também infeções nos humanos. Penso que é um alerta para que sejamos mais responsáveis sobre os métodos agrícolas, para assim podermos reduzir o risco de surtos de patogénicos problemáticos no futuro".

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