Covid-19. África poderá ter até 250 milhões de infetados e 190 mil mortos

por RTP
Um grupo de rapazes brinca nas ruas de Dakar, no Senegal. Zohra Bensemra - Reuters

O Continente Africano poderá ter 250 milhões casos de infeção e até 190 mil pessoas poderão morrer com o novo coronavírus durante o primeiro ano da pandemia. Os especialistas alertam ainda para os perigos da Covid-19 em países com recursos de saúde muito limitados.

A estimativa publicada na revista BMJ Global Health sobre a região de África da Organização Mundial da Saúde antecipa taxas de propagação viral inferiores às que têm sido registadas noutras partes do mundo.

Ainda assim, o novo coronavírus poderá afetar até 250 milhões de pessoas. Ou seja, 22 por cento da população do Continente Africano terá Covid-19 durante o primeiro ano da pandemia. Quanto ao número de mortes, este modelo preditivo estima entre 150 a 190 mil vítimas mortais.

Espera-se, no entanto, um número inferior de mortes e casos graves aos que têm sido registados na Europa e nos Estados Unidos, o que se deve a uma população mais jovem e com menos comorbidades ou fatores de risco.

Os níveis mais baixos de obesidade, comparativamente muito mais baixos do que nos Estados Unidos ou na Europa, ajudam a explicar a menor letalidade do vírus. O mesmo acontece com os casos de diabetes ou hipertensão, dois fatores de risco no desenvolvimento de uma infeção mais severa.

A estimativa tem em conta características únicas da região e de cada país, nomeadamente fatores sociais, de desenvolvimento, ambientais e de saúde da população.
Impacto indireto na saúde
Uma primeira estimativa publicada em abril previa um cenário ainda mais negro, com 1,2 mil milhões de infeção e 3,3 milhões de mortos. Mas os dados mais recentes, com base na avaliação de dados recentes recolhidos no terreno, mostram “taxas de transmissão mais lentas” que noutros países noutras regiões do mundo.

Até aqui, os modelos matemáticos usados para prever a transmissão e número de mortos em África não tinham incorporado as características exclusivas da região e de cada país.

Se as novas previsões dão algum alento, o estudo “A Predictive Model of the Effects of Sustained Community Transmission of SARS-CoV-2 Infection Across the Countries of the WHO African Regionalerta para os efeitos nefastos indiretamente provocados pelo novo coronavírus.

“No contexto africano, o planeamento [de cada país no combate à Covid-19] é fundamental, dada a grande limitação ao nível de recursos, agravada pelo stress sobre sistemas de saúde fracos”, alerta.

A estimativa prevê que entre 4,6 a 5,5 milhões de pessoas necessitem de ser internadas nos hospitais em todo o continente.Os especialistas avisam que a escalada no número de internamentos e cuidados acrescidos poderão ter um “enorme impacto” em serviços já de si fragilizados e que a maior procura de cuidados médicos poderá contribuir para a maior propagação de outros vírus e bactérias problemáticos, desde o HIV, tuberculose ou malária.

A estimativa publicada na BMJ Global Health prevê ainda que, apesar de uma menor velocidade de propagação e de um menor número de casos graves em África, o novo coronavírus poderá sobreviver por mais tempo neste continente.

“Os desafios da capacidade dos sistemas [de saúde] destacam a necessidade de se garantir o sucesso das medidas de contenção”, sublinham os autores do estudo, apelando a uma maior aposta na expansão da capacidade dos hospitais primários e cuidados de emergência básicos.
Taxas de propagação inferiores
Sobre a possibilidade de África apresentar um menor número de casos devido às dificuldades de testagem, o analista Humphrey Karamagi reconhece essa realidade, mas diz que não explica tudo.
A região de África da Organização Mundial da Saúde abrange 47 países, mas exclui o Djibuti, Egito, Líbia, Marrocos, Somália, Sudão e Tunísia.
“Pode haver um reflexo de menor comunicação [dos casos], mas consideramos que isso não explica por completo as taxas, quando observamos os padrões que estamos a observar. Há algo relacionado com a estrutura sociocultural, ou com as estruturas ambientais e de desenvolvimento, que está a diminuir as taxas de transmissão”, considerou o especialista, em declarações ao jornal The Guardian.  

De acordo com a estimativa, que delineou o risco de exposição nas várias regiões do continente, os países mais pequenos, nomeadamente as ilhas Maurícias, Seicheles e a Guiné Equatorial, serão mais vulneráveis, com percentagens mais elevadas de infeção per capita.

Outros países de grandes dimensões e com população mais dispersa ao longo do território, como o Níger, Mauritânia ou Chade, estarão possivelmente menos expostos.

Contudo, grandes países como os Camarões, África do Sul e Argélia também apresentam riscos elevados de maior propagação. A previsão diz que a Nigéria será o país africano com mais casos de infeção, seguida da Argélia a África do Sul.

Até ao momento houve mais de 2500 mortes no continente africano e 72 mil pessoas infetadas em 54 países. Esta contabilização, atualizada diariamente pela agência France Presse, inclui países do norte de África que não são visados nesta estimativa, por não se incluírem na região de África para a Organização Mundial da Saúde.
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