Covid-19. Hackers chineses tentam roubar informação sobre potencial vacina espanhola

por RTP
Tatyana Makeyeva - Reuters

Espanha também entrou na corrida para descobrir a vacina para a Covid-19. O que despertou a curiosidade dos chineses. De acordo com o Centro Nacional de Inteligência, hackers tentaram roubar informações sobre a vacina que os centros de investigação espanhóis tentam desenvolver.

A denúncia foi feita pelo Centro Nacional de Inteligência (CNI) espanhol, depois de um tribunal norte-americano ter acusado a China de ter tentado aceder a informações confidenciais através de ataques cibernéticos a 11 países, incluindo Espanha.

A notícia avançada pelo El País, esta sexta-feira, acusa hackers chineses de terem, alegadamente, roubado informações de centros espanhóis que trabalham na investigação de uma vacina contra a covid-19, de acordo com fontes ligadas a esses ataques cibernéticos.

A diretora do CNI, Paz Esteban, afirmou ao jornal que os ataques aos sistemas informáticos têm acontecido em vários países que tentam desenvolver uma vacina. Segundo a responsável, os serviços secretos de todo o mundo tentam cruzar informação para garantir a impermeabilidade dos sistemas e impedir estes ataques, mas nem sempre com sucesso.

Os principais alvos dos hackers são, segundo o CNI, os "setores sensíveis como a saúde e a farmacêutica", havendo ainda "uma campanha, especialmente virulenta, não só na Espanha, contra os laboratórios que trabalham na procura de uma vacina para a covid-19".

Além disso, Paz Esteban salientou que houve um aumento "qualitativo e quantitativo" desses ataques informáticos, principalmente durante os períodos de confinamento, tendo o teletrabalho potenciado a extenção da "área de exposição" destas ameaças".

Quanto aos alegados autores destes ataques, a publicação menciona que a maioria têm origem na China e na Rússia, e que muitas vezes são entidades do Estado, algumas universidades e organizações criminosas que comercializam as informações roubadas. Relativamente ao ataque aos centros de investigação espanhois, sabe-se que o ataque informático teve origem chinesa. No entanto, as fontes consultadas pelo jornal espanhol não revelaram a importância ou natureza das informações roubadas.

Já em julho, o Departamento de Justiça norte-americano acusou dois hackers chineses,  Li Xiaoyu e Dong Jiazhi, por supostamente tentarem roubar informações e pesquisas sobre potenciais vacinas contra o novo coronavírus, desenvolvidas por agências governamentais e empresas privadas.

Nos últimos meses, de acordo com a acusação, estes alegados hackers "investigaram vulnerabilidades nas redes de computadores de empresas que desenvolvem vacinas, tecnologia de teste e tratamentos" para a doença covid-19. Segundo a acusação, trabalhavam para seu próprio benefício, mas também colaboravam com o Ministério de Segurança do Estado chinês.

Entre os países visados por estes dois hackers estão os Estados Unidos, a Austrália, a Bélgica, a Alemanha, o Japão, a Lituânia, os Países Baixos, a Coreia do Sul, a Suécia, o Reino Unido e a Espanha.
Centros de investigação espanhóis alvos de ataques informáticos

Os investigadores do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC), que desenvolvem vacinas experimentais contra a covid-19, foram convocados ainda na primavera para uma reunião na qual foram alertados para que tomassem precauções contra tentativas de acesso ilegal a informações confidenciais. No entanto, os responsáveis ​​por seis dos grupos espanhóis que desenvolvem protótipos de vacinas garantem que não houve nenhum roubo de dados nem acessos indevidos aos seus sistemas informáticos.

Um porta-voz do CSIC afirma que os seus centros - o Centro Nacional de Biotecnologia e o Centro de Investigações Biológicas Margarita Salas, ambos em Madrid - não sofreram qualquer ataque ou roubo.

Fontes do Hospital Clinic de Barcelona afirmam também não ter conhecimento de qualquer interferência e acesso de intrusos nos computadores e sistemas informáticos onde estão armazenados os resultados de uma vacina experimental baseada no material genético do novo coronavírus. Também não o Instituto Nacional de Investigação e Tecnologia Agrícola e Alimentar (INIA) e a Universidade de Santiago de Compostela, onde a equipa de José Manuel Martínez Costas investiga uma abordagem original, baseada numa estratégia de vírus pássaros, indicam que não têm qualquer informação de que tenham sido alvo de ataques informáticos.

No entanto, o CNI continua a afirmar que os centros de investigação espanhóis que trabalham para descobrir e desenvolver uma vacina contra a covid-19 foram alvos de ataques informáticos por hackers chineses.

Em Espanha, há pelo menos uma dezena de projetos para desenvolver uma potencial cura para a covid-19. Os mais avançados são as investigações coordenadas pelo virologista Mariano Esteban, do Centro Nacional de Biotecnologia do CSIC, e pelo médico Felipe García, do Hospital Clínic. Mas, até agora, ainda nenhuma destas potenciais vacinas entrou na fase de testes em humanos.
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