António Gedeão, poeta, professor e historiador da ciência portuguesa

por Agência LUSA

Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, que adoptou tardiamente o pseudónimo poético de António Gedeão, nasceu a 24 de Novembro de 1906 e ficou para a história como poeta, professor e historiador da ciência portuguesa.

Publicou o primeiro livro de poemas, "Movimento Perpétuo", em 1956, aos 50 anos, apesar de ter começado a revelar pendor poético ainda na infância, sendo conhecidas pelo menos três composições datadas de 1911: as quadras "Era uma vez um menino" e "Maria é o primeiro nome" e o poema "Um casamento".

A fase de transição para a adolescência foi marcada por um crescente interesse por temas ligados à História de Portugal e a influência camoniana levou-o ao projecto de continuar "Os Lusíadas", apenas com 11 anos, tendo publicado, em 1917, as sete primeiras estrofes do Canto XI, no jornal Notícias d`Évora.

Apesar da sua precoce predisposição literária, não ingressou num curso de Letras, tendo efectuado uma breve passagem pelo curso preparatório de Engenharia Militar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e acabado por licenciar-se em Ciências Físico- Químicas na Faculdade de Ciências do Porto, com a determinação de ser professor.

Distinguido com o Grau de Grande Oficial da Instrução Pública em 1987 e com o Colar da Ordem Militar de Sant`Iago em 1996, académico efectivo da Academia das Ciências de Lisboa e Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora, cedo revelou o gosto pela investigação e se assumiu como divulgador da ciência.

Começou por estudar os equipamentos e peças de material didáctico do Gabinete de Física destinados à Fundação da Faculdade de Filosofia de Coimbra, originalmente pertencentes ao Gabinete de Física do Real Colégio dos Nobres, um processo que culminou na publicação de duas obras marcantes para a história daquela ciência em Portugal.

Como divulgador da ciência, criou em 1951 uma colecção intitulada "Ciência para Gente Nova", na qual abordava a evolução histórica de acontecimentos e instrumentos que conduziram a humanidade ao estado em que a ciência e a técnica de então dominavam.

Assim surgem a "História do Telefone", "História da Fotografia", "História dos Balões", "História da Energia Nuclear", "História do Ensino em Portugal", "História da Radioactividade" e "História dos Isótopos", entre outras, que incentivaram muitos jovens a estudar e fazer carreira na área das ciências.

O elo entre Rómulo de Carvalho e António Gedeão só viria a revelar-se pela primeira vez em 1995, data em que foi publicada pelo primeiro a obra "O Texto Poético como Documento Social".

António Gedeão é a face do autor que o público melhor conhece:

com apenas três livros de poemas editados em meia dúzia de anos ("Movimento Perpétuo", em 1956, "Teatro do Mundo" em 1958 e "Máquina do Fogo" em 1961), rapidamente foi aclamado como "um poeta novo e diferente", devido a um "subtil compromisso entre a libertação modernista e os esquemas tradicionais", como observou Jorge de Sena.

Contemporâneo de nomes então já consagrados, como Sophia de Mello Breyner Andresen, Carlos de Oliveira e Eugénio de Andrade, o facto de alguns dos seus poemas terem sido musicados - como "Pedra Filosofal" e "Calçada de Carriche" - contribuiu para popularizar a sua obra poética, na década de 1970.

Depois de coligida pela primeira vez em 1964, em três volumes, com prefácio de Jorge de Sena, seguiu-se a publicação de "Linhas de Força" (1967), "Poemas Póstumos" (1983) e "Novos Poemas Póstumos" (1990), tendo a sua "Poesia Completa" sido editada em 1990, com ilustrações de Júlio Pomar.

Escreveu igualmente uma peça de teatro, intitulada "RTX-78/24", e a obra de ficção "A Poltrona e Outras Novelas", mas foi pela poesia que conquistou um lugar de destaque no panorama literário nacional.

António Gedeão é patrono de duas escolas secundárias e Rómulo de Carvalho é nome de uma rua de Lisboa, em Marvila, e também do Prémio Municipal de Ciência e Didáctica da Câmara Municipal de Lisboa.

Da sua autoria, são ainda "Memória de Lisboa", um livro de fotografias, e "As Origens de Portugal, História contada a uma Criança", com ilustrações suas, ambos publicados postumamente.

Depois da morte do autor, a 19 de Fevereiro de 1997, multiplicaram-se os estudos, homenagens e reflexões sobre a sua obra, cujo espólio se encontra na Biblioteca Nacional.

Para assinalar o centenário do seu nascimento, estão previstas várias iniciativas, entre as quais uma sessão solene na Academia das Ciências de Lisboa, que decorrerá sexta-feira, data em que se completam 100 anos do seu nascimento.

Na sessão, realizada no dia em que se comemora também o Dia Nacional da Cultura Científica, instituído em 1996 pelo ministro da Ciência, Mariano Gago, por ocasião do 90º aniversário de Rómulo de Carvalho, intervirão o presidente da Academia, o presidente da Classe de Ciências e académicos ligados às Universidades de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora.

A Universidade de Évora, que lhe conferiu o grau de Doutor "honoris causa" em 1995, instituiu o Prémio Rómulo de Carvalho, este ano atribuído pela primeira vez e que terá periodicidade anual, visando alternadamente a vertente didáctica e pedagógica do ensino das Ciências e a vertente da História e Filosofia da Ciência.

Outra das iniciativas agendadas pela Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário do Nascimento de Rómulo de Carvalho/António Gedeão é a construção de um site próprio na Internet, que contará também com o apoio da Universidade de Évora (www.100anos-romulogedeao.info).

Prevê-se ainda a publicação, apoiada pelo Instituto Camões, de um conjunto de quatro volumes, actualmente em fase de preparação, com a tradução em quatro línguas de poemas escolhidos de António Gedeão, sempre acompanhada dos originais em português.

Serão também publicadas as suas "Memórias", até agora inéditas - um manuscrito com cerca de 1100 páginas que passa em revista a vida pessoal e profissional de Rómulo de Carvalho ao longo de quase um século.

Por ter sido simultaneamente um homem da ciência e um homem da poesia, há quem lhe chame "o alquimista da palavra".

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