Artista Susana Anágua liga cintura industrial ribeirinha com a palavra desterro

por Lusa

A artista plástica Susana Anágua vai inaugurar, na quinta-feira, no Museu do Chiado, em Lisboa, uma exposição que liga a palavra desterro a um conjunto de edifícios e estruturas industriais da cintura industrial ribeirinha da capital.

Com curadoria de Celso Martins, a exposição "Desterro" é inaugurada às 19:00, e abre ao público na sexta-feira, no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, com obras recentes em vídeo e fotografia digital, segundo uma nota da entidade hoje divulgada.

"Desterro" é um projeto multidisciplinar que faz relacionar a memória industrial do Tejo com a memória histórica e toponímica de uma localização particular da cidade de Lisboa, aquela que, na zona dos Anjos, ganhou o seu nome por causa do Hospital de Nossa Senhora do Desterro, explica o curador num texto sobre a exposição.

Há obras em vídeo - "Nossa Senhora do Desterro" (2017) - e nove painéis em fotografia digital, também criados este ano, no âmbito da ideia de desterro.

Susana Anágua parte da palavra desterro enquanto sinónimo de deslocação, deportação ou exílio, e faz uma viagem "em torno de um conjunto de edifícios e estruturas industriais da cintura industrial ribeirinha da cidade, cuja vocação foi mudando ao longo dos anos, e cujo destino parece atualmente suspenso e entregue à sua própria entropia".

Nesta exposição, uma imagem de Nossa Senhora do Desterro digitalizada dá-nos as boas vindas para, a seguir, mostrar um conjunto de imagens alternadamente estáticas e em movimento que evocam locais como o Hospital de Nossa Senhora do Desterro, a Fábrica Nacional, ou o complexo industrial da Quinta da Matinha.

A artista alargou o âmbito da ideia de desterro, e incluiu a imagem de uma pintura de 1868 do artista brasileiro Joseph Bruggemann, com uma vista da antiga cidade do Desterro, atual Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, povoação que foi destino de migrantes e exilados e é hoje um importante centro turístico brasileiro.

O percurso expositivo fica concluído com um painel de desenhos iluminados que recolhem fragmentos das outras imagens realizados em papel químico, material outrora muito utilizado para reproduzir documentos na atividade industrial e que, também ele, se tornou anacrónico.

"Ao cruzar diferentes tempos, ora iluminados por desejos de progresso, ora atingidos pela decadência, a exposição propõe um fluxo visual e linguístico no qual se surpreende a mudança histórica nos seus movimentos contraditórios e paradoxais", contextualiza o curador, Celso Martins.

Nascida em Arruda dos Vinhos, em 1976, Susana Anágua licenciou-se em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) das Caldas da Rainha, e é mestre em Digital Arts pela Universidade de Artes de Londres (Camberwell College of Arts).

Das exposições individuais mais recentes destacam-se, entre outras, "Olhar Radar", no Rio de Janeiro, em 2012, e, em 2008, "Desnorte/Northless", na sala de projetos do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

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