"Bolsonaro é retrocesso" diz arquiteta que fez capela para o Vaticano

por Lusa

A arquiteta Carla Juaçaba, que projetou a capela para o Vaticano na Bienal de Veneza 2017, considera que a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência do Brasil representa um "retrocesso enorme" para o país.

"Certamente vai ser um retrocesso enorme para o Brasil, se Bolsonaro ganhar. É um perigo enorme. Um projeto como o da capela na Bienal de Veneza não teve qualquer impacto no Brasil. Nenhum jornal se interessou. Há quatro anos que o país parou nesta agitação política", afirma.

Em entrevista à Lusa, a arquiteta brasileira que está em Portugal para participar na 6.ª edição da Bienal da Pedra, que decorre até domingo, na Vila de Alpendorada, Várzea e Torrão, em Marco de Canaveses, sublinha que "trabalhar com arquitetura no Brasil, é sobreviver".

Carla Juaçaba diz que "há pouco investimento, pouco interesse e pouca valorização", algo que acredita poder agravar-se com a vitória de Jair Bolsonaro, que, como sublinha, já avisou que "vai retirar todos dos apoios à Cultura".

A arquiteta brasileira considera até que o impacto desta agitação política em que o país mergulhou "já se está a refletir". "A violência e o medo voltaram, o que afeta a forma como as pessoas vivem a cidade".

Carla Juaçaba fez parte do grupo de dez arquitetos selecionadas pelo Vaticano, na sua primeira participação na Bienal de Arquitetura de Veneza, que também inclui o português Eduardo Souto de Moura.

A capela projetada pela arquiteta e que, como afirmou, vai manter-se no local depois de ter sido considerada património cultural em Itália, busca uma integração harmónica entre as águas e as árvores de Veneza, com o espaço entre as copas das árvores - a visão do céu - a funcionar como teto da capela.

Com escritório no Rio de Janeiro, Juaçaba ganhou ainda a 1.ª edição do Prémio Internacional ArcVision Women and Architecture 2013 e, entre os projetos de maior relevo da sua carreira, destaca-se o "Humanidade 2012", estrutura temporária que albergou o evento internacional Rio+20, no Rio de Janeiro.

No âmbito da parceria entre a Casa da Arquitectura, em Matosinhos, e a autarquia de Marco de Canaveses, está a preparação da 7.ª Bienal da Pedra, a decorrer em 2019, e que irá incluir um projeto de Carla Juaçaba, a implantar no concelho do Marco de Canaveses.

Segundo a arquiteta, o pavilhão deverá ser construído junto ao rio e a matéria prima utilizada será a pedra.

A Casa da Arquitectura irá ser coprodutora deste projeto.

Sobre a exposição "Infinito Vão - 90 anos de Arquitetura Brasileira", patente na Casa de Arquitetura, em Matosinhos, a arquiteta Carla Juaçaba, que vai participar numa conversa dedicada ao tema "Poéticas Espaciais", no domingo, realça a importância deste espólio na afirmação da arquitetura brasileira.

A Coleção Brasil, com curadoria de Fernando Serapião e Guilherme Wisnik, mostra a "diversidade da produção arquitetónica da modernidade à contemporaneidade, ao longo de 90 anos de arquitetura brasileira", contando com mais de 4.700 peças físicas e 45.500 peças digitais, entre textos, desenhos e maquetes, generosamente entregues por mais de 150 doadores, segundo a nota explicativa da organização.

A "Casa das Canoas", do arquiteto Oscar Niemeyer, "A "Casa Bola", do arquiteto Eduardo Longo, "Museu brasileiro da Escultura", de Paulo Mendes da Rocha, "Pavilhão das Humanidades", de Carla Juaçaba, "Instituto Moreira Sales", de Andrade Morett, ou "Hospital Sarah Kubitschec", de João Filgueiras Lima, são algumas das obras que se destacam entre os 103 projetos doados, patentes na exposição.

O "Infinito Vão", constituído por uma exposição, uma publicação, uma plataforma digital de investigação e um programa de atividades levadas a cabo nos dois países, Portugal e Brasil, pretende, através de cruzamentos com a música, cinema e literatura, "dar a conhecer a arquitetura brasileira a novos e mais generalizados públicos de distintas geografias internacionais", segundo a organização da iniciativa.

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