Brasil lista 115 locais para "Rota do Escravo" em memória do tráfico negreiro

Rio de Janeiro, 25 abr (Lusa) - O Brasil apresenta hoje uma lista de 115 locais que formarão parte da "Rota do Escravo", projeto realizado no âmbito da Unesco em memória do tráfico negreiro e da herança histórica deixada pelos africanos em diversos países.

Lusa /

"Esse projeto existe para pensar a diáspora negra e para criar propostas que deem visibilidade aos aspectos positivos dessa que foi a maior transferência forçada de população que nós tivemos na história", explicou à agência Lusa o representante brasileiro do Comité Científico Internacional da Unesco, o antropólogo Milton Guran.

De acordo com o antropólogo, o Brasil acolheu 40 por cento de toda a população africana traficada no período escravocrata, o que contribuiu para que hoje seja o segundo país com a maior população nacional negra do mundo, atrás apenas da Nigéria.

"Para mapear os pontos, elaborámos um projeto de pesquisa no Laboratório de Imagem da Universidade Federal Fluminense (UFF) e criámos um sítio na Internet para receber sugestões não só do mundo académico, mas também da sociedade civil", explicou Guran.

Entre os locais mais emblemáticos escolhidos, o antropólogo destaca o Cais do Valongo, na região portuária do Rio de Janeiro, onde funcionou durante anos o maior centro de comercialização de escravos da América Latina.

Quando o tráfico de escravos começou a ser mal visto internacionalmente, o local foi esvaziado, transformando-se no Cais da Imperatriz, mais tarde também modificado pelo Governo Republicano instaurado em 1889.

"Estamos revelando essas três fases, que são simbólicas de como nós temos tratado a nossa história nesses últimos 150 anos, varrendo para baixo do tapete as coisas", criticou.

Ao todo, o inventário lista 13 portos e mercados oficiais por onde chegavam os africanos, além de 15 praias de desembarque ilegal e locais de quarentena.

As irmandades e locais de cultos afro-brasileiros fundados originalmente por africanos ascendem a 35, principalmente nos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Como marca importante da não subserviência desses escravos figuram 16 regiões de quilombos - como eram chamadas as vilas fundadas por escravos fugitivos - na sua maioria localizadas no estado do Rio de Janeiro e Salvador.

Manifestações como a capoeira, o jongo e o congado aparecem como marcos da presença africana na cultura imaterial brasileira.

O projeto está integrado no programa "Rota do Escravo: Resistência, Herança e Liberdade", criado em 1994 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), ao qual outros países de passado escravocrata também já apresentaram suas rotas.

A apresentação no Brasil ocorre no âmbito da 4.ª Edição do Festival Internacional do Filme de Pesquisa sobre História e Memória da Escravidão Moderna, cuja abertura acontece hoje no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro.

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