Dezenas de livrarias independentes criam rede para salvar setor

por Lusa

Mais de meia centena de livrarias independentes de todo o país uniram-se para criar uma rede de cooperação com o objetivo de conjugar esforços para enfrentar a crise no setor, agravada agora pelas condições criadas pela covid-19.

Denominada RELI - Rede de Livrarias Independentes, esta associação livre de apoio mútuo é hoje lançada, juntamente com o respetivo site - www.reli.pt -, e tem como objetivo "coordenar esforços para enfrentar a crise no mercado livreiro, que vem comprometendo, já há vários anos, a existência de pequenas livrarias em todo o país", referem os livreiros, numa nota enviada à comunicação social.

Esta rede "tem uma causa: conjugar esforços para levarmos por diante os nossos projetos individuais e o grande projeto coletivo que é o de dotar o país de uma rede de livrarias especializadas e de proximidade", sublinham, numa nota que é assinada, em nome de todos, por José Pinho, da Livraria Ler Devagar, e Rosa Azevedo, da Livraria Snob.

"Acreditamos que a constituição desta plataforma nos vai permitir agregar esforços, juntar todos os livreiros independentes de Portugal - maioritariamente micro e pequenas empresas -, delinear estratégias e ações comuns e enfrentar esta situação inédita, que nos apareceu num momento em que o encerramento das livrarias independentes - empurradas para fora dos seus estabelecimentos pelos efeitos da desenfreada, desnecessária e absurda especulação imobiliária - dava sinais de algum abrandamento", lê-se numa carta aberta dirigida pelos livreiros aos órgãos de soberania.

Juntamente com o lançamento da rede e do respetivo `site`, são lançadas duas ações conjuntas, "Livraria às Cegas" e "Fique em Casa", numa tentativa de manter em movimento o negócio dos livros, procurando fazer face à atual conjuntura.

"Livraria às cegas" é uma iniciativa que desafia o público a escolher um livreiro, pedir-lhe livros "de olhos fechados" e, mediante um pagamento igual ou superior a 15 euros, receber um pacote-surpresa em casa.

A campanha "Fique em casa, mas não fique sem livros" apela aos leitores para que encomendem livros numa das livrarias independentes da rede, e os livros serão enviados sem encargos dos portes de envio.

As duas iniciativas estão no `site` da RELI, que dispõe também da listagem de livrarias que fazem parte da rede, com as respetivas moradas e contactos.

A RELI pretende ainda que este venha a ser um `site` com venda `online` e georreferenciação das livrarias aderentes à rede, constituindo "o embrião de uma central de compras e de distribuição".

Em tempos de uma crise que nem em tempos de guerra ou de outras calamidades globais foi vivida, porque se trata de uma luta "muito desigual", em que "não [se sabe] onde estão as armas e não [há] um inimigo declarado à vista", a RELI está a tentar assegurar a sobrevivência das livrarias independentes, num cenário em que "as ruas estão desertas, e as pessoas, acantonadas em suas casas, não podem sequer ocupar os seus lugares nas trincheiras".

O comércio fechou, mas a ministra da Cultura, Graça Fonseca, disse que seria possível abrir as livrarias e vender ao postigo, uma hipótese pouco adequada à realidade de uma livraria, e dos clientes que a procuram.

"O problema aqui não é abrir em condições precárias ou não abrir. O problema é que, mesmo que estivessem abertas, as ruas estão desertas e os clientes não saem de casa para ir às livrarias comprar livros", disse à Lusa José Pinho.

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