"Obras completas de Bocage", em três volumes, apresentadas na Biblioteca Nacional

por Lusa

As obras completas de Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), uma das mais notáveis figuras do Iluminismo em Portugal, vão ser apresentadas na quinta-feira, na Biblioteca Nacional de Portugal, pelo poeta, ensaísta e crítico literário António Carlos Cortez.

A coleção, coordenada por Daniel Pires e editada pela Imprensa Nacional, é inteiramente dedicada à obra multifacetada de Bocage, um autor que se desdobrou em múltiplas formas de poesia, que foi dramaturgo e um tradutor rigoroso.

Bocage, considerado o maior representante do arcadismo em Portugal - apontado como o elo de ligação entre o arcadismo iluminista e o romantismo (corrente, paradoxalmente, contrária ao iluminismo) -, entrou em colisão declarada com a estética literária do seu tempo, sem por isso deixar de ser reconhecido e apreciado entre as classes letradas da época.

Esse aspeto, juntamente com a "sua escrita irreverente", tornaram-no uma referência para gerações e gerações de portugueses, destaca a Imprensa Nacional, responsável pela edição desta coleção "Obras Completas de Bocage", composta por três volumes.

O primeiro volume da coleção - "Sonetos, Sátiras, Odes, Epístolas, Idílios, Apólogos, Cantatas e Elegias" - ilustra a versatilidade do Poeta, que cultivou quase todos os géneros líricos da época, uma edição em dois tomos, que vem acompanhada por um estudo introdutório, para melhor compreensão da dimensão do homem, da obra e do seu contexto.

O segundo volume é dedicado às "Traduções" feitas pelo escritor, e versa autores greco-latinos, franceses, italianos e um britânico, prevalecendo os escritores clássicos e os franceses.

Como escreve Daniel Pires, no prefácio da obra, "Bocage foi um tradutor de mérito, atributo que, até ao presente, não teve o reconhecimento por parte da maioria dos seus biógrafos e de outros ensaístas".

"Conhecia profundamente a cultura francesa e a civilização greco-latina, a sua história, literatura e mitologia; assimilou a lição dos quinhentistas portugueses, facto que lhe facultou o domínio abrangente do idioma pátrio; acresce, por outro lado, o seu génio poético. A conjugação destes atributos permitiu-lhe, apoderando-se do espírito dos autores originais, verter para português com fidelidade, mestria e verve poética", acrescenta o especialista em cultura portuguesa e dirigente do Centro de Estudos Bocageanos desde a sua fundação, em 1999.

O terceiro volume - "Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas" - reúne as composições de Bocage, as de autoria duvidosa e também as indevidamente atribuídas ao Poeta, acompanhadas por um estudo introdutório.

Daniel Pires sublinha que "urge inverter a imagem que perdura junto de setores da população menos informados: o Bocage chocarreiro, protagonista de anedotas boçais, fura-vidas, promíscuo e pornográfico".

"Em oposição a esta caricatura, damos ênfase ao poeta genial, ao tradutor rigoroso, ao paradigma cívico, ao cidadão que marcou múltiplas gerações de portugueses, influenciadas pela sua irreverência, frontalidade, demanda de liberdade, humor corrosivo e pela assunção inequívoca do corpo", explica o responsável pela coleção.

O lançamento das "Obras Completas de Bocage" tem entrada livre e vai decorrer no dia 27 de junho, pelas 18h00, na BNP, em Lisboa.

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