Peixe de Moçâmedes ajuda centenas de angolanas a sustentar famílias

por Lusa

Centenas de angolanas juntam-se diariamente no improvisado mercado do peixe de Moçâmedes, mas as condições de venda e segurança, inclusive com assaltos durante o negócio, dificultam a vida destas mulheres numa das maiores praças pesqueiras de Angola.

Em pleno centro da capital da província do Namibe, no sul de Angola, Moçâmedes conserva a tradição pesqueira secular, com centenas de embarcações que todos os dias chegam a terra com peixe, nomeadamente carapau.

Cada caixa de peixe chega a ser vendida pelos pescadores por até 13.000 kwanzas (50 euros), para depois ser revendida, a grosso ou a retalho, por estas peixeiras, que por vezes sozinhas garantem o sustento de uma casa inteira.

Em cada uma das 50 caixas de peixe que chega a vender por dia, Juliana Gonzaga, peixeira na praça de Moçâmedes desde 2012, ganha cerca de 1.500 kwanzas (cinco euros), o suficiente para alimentar 12 pessoas em casa.

"Os preços variam, depende dos dias, se tem muito peixe ou não", começa por explicar à Lusa esta peixeira, por entre a azáfama de ganhar um cliente às outras concorrentes da praça.

A frota de pesca do Namibe, segundo dados oficiais, era composta em 2017 por 489 embarcações, das quais 220 destinada à pesca artesanal. Esta última alimenta depois mercados de peixe como o de Moçâmedes, que funciona nos passeios junto à marginal e ao porto da cidade.

Por ali juntam-se, logo às primeiras horas da manhã, centenas de mulheres, à procura do melhor preço para a caixa de peixe que depois vão revender, num movimento que atrai clientes e os "indesejados", que se intrometem no negócio para "levar" o próprio peixe ainda na bacia destas mulheres.

"Nós precisamos de ajuda porque o nosso sítio [para vender] não tem as condições próprias. Precisamos também de polícias aqui por causa desses miúdos. As tias compram peixe e às vezes com a bacia na cabeça lhes tiram o peixe. É irritante, precisamos mesmo de polícia", desabafa Juliana Gonzaga,.

"Aqui fazem tudo, praticamente", lamenta a peixeira, de 36 anos, logo apoiada por outras colegas.

É o caso de Verónica Carmo, de 32 anos e que já leva 10 anos a vender peixe na praça de Moçâmedes, onde chega antes de amanhecer, para comprar no barco o melhor pescado do dia.

"Se tiver muito peixe, podemos vender mais de 100 caixas. Depende do dia", explica.

Apesar da falta de condições, em que vende o peixe ao sol, sentada sobre um pano que coloca no chão, consegue com este negócio sustentar as seis pessoas que tem a seu cargo.

"Estamos a conseguir para a escola dos filhos e para a construção da nossa casa", explica, sempre de olho na bacia do peixe, não vá ser surpreendida "pelos miúdos" que por ali circulam, à espreita da oportunidade de "deitar a mão".

Maria Samba, de 26 anos, está há apenas dois anos no negócio, que vai aprendendo com as "mais velhas" da praça.

Para já vende apenas duas caixas de peixe por dia, normalmente a retalho. Num dia bom, consegue vender cada cinco carapaus por 500 kwanzas (1,90 euros), mas tudo depende do volume de clientes e da concorrência.

"Compro nos barcos, depois vendo aqui no porto. Para não ficar em casa, venho para aqui me remediar", explica, sobre um negócio que ajuda a sustentar seis pessoas.

Amaral Nangala é pescador há cinco anos, num dos mais de 200 barcos de pesca artesanal que fazem porto em Moçâmedes. Dedica-se à pesca da malhadeira, apanhando carapau e cachucho, que todas as manhãs entrega às peixeiras em Moçâmedes.

Explica que já perdeu a conta aos sustos que apanhou no mar e em pleno mês dedicado às Festas do Mar do Namibe, que movimenta milhares de pessoas em Moçâmedes até 31 de março, só lamenta a falta de apoio do Estado a um setor que representa o ganha pão para milhares de famílias da região.

"Que o Governo nos possa ajudar na boia salva-vidas, âncoras e boias de iluminação. Porque uma boia de iluminação estamos a comprar por um preço muito elevado, por 7.000, 8.000 [kwanzas, 30 euros]. Assim não dá", remata este pescador, de 21 anos.

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