Rodrigo Vilhena questiona modo de apresentação da arte

Lisboa, 17 Jan (Lusa) - O artista plástico Rodrigo Vilhena inaugura no sábado na Galeria de São Bento, em Lisboa, uma exposição em que questiona com ironia o modo actual de apresentação da arte.

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Inspirado no livro de Júlio Verne "As Vinte Mil Léguas Submarinas", o convite para a inauguração tem o formato de um anúncio fúnebre que convoca os visitantes para uma "missa de primeiro dia e agradecimento" pelo "eterno descanso" do Capitão Nemo.

A ideia é traçar um paralelo entre a morte do Capitão Nemo e o desaparecimento da colecção de arte que se afundou com o submarino "Nautilus", que ele comandava, e "o funeral do modo de apresentação das obras de arte", explicou o artista à Lusa.

"Com o advento das novas tecnologias, a questão que coloco", diz Rodrigo Vilhena, "é se vale a pena expor obras de arte quando elas podem ser apresentadas em suporte digital".

Para expor essa ideia, o artista apropriou-se de vários quadros, entre pinturas, desenhos e colagens pertencentes ao acervo da galeria, como se escolhesse uma colecção, e fotografou-as para as projectar como "screensaver" num monitor emoldurado.

É assim que a exposição é constituída por 53 obras expostas nas paredes da galeria e por um monitor de 17 polegadas onde imagens dessas obras aparecem sucessivamente.

O "screensaver" vai passando as imagens das obras ao som da música do filme "Morte em Veneza", de Visconti, explicou Isabel Vaz Lopes, da galeria, à agência Lusa.

O público poderá aceder gratuitamente à colecção no site www.ogabinetedodrr.net e fazer o download do sreensaver, mas só no sábado, dia da inauguração.

No convite para a exposição, Rodrigo Vilhena agradece aos autores das obras expostas e fotografadas "terem acompanhado o Capitão Nemo até à sua última morada ou terem, de qualquer forma, manifestado o seu pesar".

Nascido em 1968, em Lisboa, Rodrigo Vilhena define-se como "um artista-comissário independente", um "mestre na arte de pensar contra si próprio" que viajou por "inimagináveis terras vazias" até se tornar um "outsider no mundo".

Mestre em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, licenciou-se em Artes Plásticas pela Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha e foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.

Nos anos 90 colaborou e organizou várias exposições alternativas entre Caldas da Rainha e Lisboa. Mais recentemente, a sua prática artística tem vindo a implicar um processo curatorial.


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