China cerca investidores após terramoto nas bolsas

por Carlos Santos Neves - RTP
A polícia e o regulador dos mercados bolsistas da China têm em curso uma investigação que visa apurar “vendas a descoberto maliciosas” Kim Kyung Hoon - Reuters

Apurar “vendas a descoberto” de natureza “maliciosa” é a partir de hoje a missão a cargo da polícia e da Comissão de Regulação dos Mercados Financeiros da China, ao cabo de três semanas de terramoto nas bolsas do país. As perdas acumuladas em valor ascendem a 3.200 mil milhões de dólares. Os grandes investidores estão já impedidos de vender ações por um semestre.

Sete anos depois do verdadeiro abalo telúrico com epicentro no sistema financeiro dos Estados Unidos, regressam os sintomas de pânico. Desta feita, o epicentro é na Ásia. Desde 12 de junho, as bolsas da China depreciaram-se em mais de 30 por cento, num montante a rondar os 2.900 mil milhões de euros. É o equivalente a 12 vezes o Produto Interno Bruto da Grécia em 2014.A venda a descoberto é a alienação de um ativo que ainda não se detém na expectativa de uma quebra do preço, de forma a voltar a comprá-lo e obter ganhos com a diferença.


É uma tempestade perfeita em potência. Nas contas do jogo bolsista, os investidores internacionais somam aos temores imediatos do impasse negocial grego uma queda vertiginosa dos mercados chineses. Se esta se perpetuar, advertem os analistas, as ondas de choque serão sempre superiores, ainda que mais longínquas no calendário.

Diante do abismo, a polícia e o regulador dos mercados bolsistas da China estão agora a combinar esforços numa investigação que tem por finalidade apurar “vendas a descoberto maliciosas”. Ao mesmo tempo, procura-se atenuar as crescentes preocupações públicas.

Nesse sentido, os órgãos estatais de comunicação social, nomeadamente a agência Xinhua (Nova China), começaram já a implantar a ideia de que “as autoridades querem reprimir severamente as transações contrárias às leis e às regulamentações”. Todavia, o nervosismo prevalece.
“Longe de declarar vitória”

A Bolsa de Xangai inaugurou a sessão desta quinta-feira a desvalorizar-se quase quatro por cento. A meio da manhã, havia alguns sinais de estabilização. Ténues.

O índice Composite de Xangai passaria a ganhar 1,3 por cento. Mas só depois de cair no vermelho por diversas vezes: em poucas horas, resvalou 3,81 por cento, recuperou para ganhos de 2,62 por cento e tornou a apagar quase por completo esta valorização, para depois ensaiar novo recobro.

Sempre volátil, a oscilar entre os extremos, a sessão de Xangai terminou com uma expressiva valorização de 5,76 por cento, para 3.709,33 pontos.

A Bolsa de Shenzhen fechou, por sua vez, a ganhar 3,76 por cento, para 1.955,35 pontos.

DuChangchun, um analista da Northeast Securities de Xangai citado pela Reuters, resumiu o sentimento predominante: “O mercado está a ver hoje alguns sinais positivos, mas está longe de declarar uma vitória para os socorristas, dado que mais de metade das companhias listadas não estão a negociar”.
Investidores condicionados
Perante a velocidade dos acontecimentos, o jornal Shanghai Daily escrevia nas últimas horas que a volatilidade das praças bolsistas não deveria “desestabilizar a economia real”, tão-pouco “afastar os investidores estrangeiros”. Isto porque “apenas 20 por cento da riqueza da população está investida em ações”. Parte da estratégia de contenção de danos.

Na frente institucional, a par da investigação conjunta lançada pela mão do próprio vice-ministro chinês da Segurança Pública, Meng Qingfeng, a Comissão de Regulação dos Mercados (CSRC) proibiu os maiores investidores e quadros executivos de empresas indexadas de venderem ações. A medida é para vigorar pelos próximos seis meses.

Num capítulo histórico do abraço chinês à via do “capitalismo de Estado”, a bolsa de valores do colosso asiático retomou a atividade em 1990, primeiro em Xangai e depois em Shenzhen, zona económica especial contígua a Hong Kong.

c/ AFP, Reuters e Lusa
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