O Presidente dos Estados Unidos confirmou que vai ser aplicada uma tarifa adicional de dez por cento sobre os produtos chineses num valor equivalente a 270 mil milhões de euros. Donald Trump garante, ainda assim, que as negociações bilaterais vão continuar. Mas a China diz-se pronta a ripostar.
“Durante as negociações os Estados Unidos vão, a partir de 1 de setembro, aplicar uma pequena tarifa adicional de dez por cento nos restantes 300 mil milhões de dólares [cerca de 270 mil milhões de euros] remanescentes de bens e produtos vindos da China para o nosso país”, lê-se num tweet ontem publicado por Donald Trump.
...during the talks the U.S. will start, on September 1st, putting a small additional Tariff of 10% on the remaining 300 Billion Dollars of goods and products coming from China into our Country. This does not include the 250 Billion Dollars already Tariffed at 25%...
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 1 de agosto de 2019
“Isso não inclui os 250 mil milhões de dólares [cerca de 225 mil milhões de euros] já tarifados em 25 por cento“, acrescentou.
No ano passado, o total das exportações chinesas para os Estados Unidos superou os 488 mil milhões de euros.
A guerra comercial pode estar de volta, mas "basicamente [a China] tem muito poucas boas opções" para ripostar contra os Estados Unidos, segundo Julian Evans-Pritchard, economista da China Capital Economics, em declarações à CNN.
Na opinião desta especialista, se o Governo de Xi Jinping decidir “bater de frente contra os Estados Unidos, vai ser muito difícil fazê-lo sem se atingir a si mesmo”.
No entanto, quaisquer que sejam as medidas a tomar pelo Governo chinês “todas as consequências vão ser suportadas pelos Estados Unidos”.Moeda de troca
Neste jogo de monopólio, a China pode ter uma grande vantagem, visto que controla mais de 90 por cento da produção global de minerais de terras raras. A maioria destes minerais possui propriedades magnéticas e condutoras imprescindíveis para grande parte dos dispositivos eletrónicos.
Entre 2014 e 2017, os chineses foram responsáveis por 80 por cento de todos os minerais importados pelos Estados Unidos.
“Provavelmente, isso pode ter um maior impacto a curto prazo, mas vai causar muitos danos colaterais aos outros parceiros comerciais da China, particularmente ao Japão, que é o principal importador de minerais de terras raras", referiu Julian Evans-Pritchard.
Ainda segundo a economista, o recurso mais poderoso do Governo de Xi Jinping não passa por restringir o fornecimento dos minerais, mas sim por dar a devida atenção à taxa de câmbio.
“Essa é realmente uma ferramenta que lhes permitiria compensar diretamente grande parte do impacto causado pelas tarifas", acrescentou.
No entanto, a China pode ter motivos para evitar a desvalorização do yuan. Uma grande queda na moeda pode desencadear uma saída de dinheiro e prejudicar a estabilidade económica do país.
Atualmente, um yuan equivale a 0,14 dólares americanos.Guerra de tarifas
A China avisou e as retaliações até podem já estar a caminho. Depois de Trump ter ficado descontente com a indecisão chinesa, o Governo de Xi Jinping ripostou contra as medidas impostas pelos norte-americanos e garantiu que não seriam intimidados por Donald Trump.
“Se a América aprovar essas tarifas, a China vai ter de tomar as contramedidas necessárias para proteger os interesses fundamentais do país”, afirmou Hua Chunying, diretora do Departamento de Informações do Ministério de Relações Exteriores da China.
“Não vamos aceitar qualquer tipo de pressão, intimidação ou chantagem”, assegurou.
A disputa comercial entre as duas potências tem causado um efeito inibidor sobre a economia mundial. O crescimento económico diminuiu em todo o mundo e vários países saíram prejudicados, sobretudo aqueles que lutam contra a recessão.
Na sequência desta retração, ocorre uma queda a nível da produção e uma redução da taxa de lucro, enquanto aumenta o número de desempregados. Consequentemente, o nível de investimento também diminui.
"O crescimento da manufatura, do investimento e das exportações dos Estados Unidos devem cair ainda mais nos próximos meses”, advertiu Tiffany Wilding, uma das economistas no banco PIMCO.
“O mais recente anúncio do Governo Trump de impor tarifas adicionais à China provavelmente vai exacerbar essa fraqueza", acrescentou.
Ainda assim, Donald Trump mantém-se otimista e com os olhos postos num futuro “muito brilhante”, depois de garantir que as negociações bilaterais vão continuar.
...We look forward to continuing our positive dialogue with China on a comprehensive Trade Deal, and feel that the future between our two countries will be a very bright one!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 1 de agosto de 2019
“Estamos ansiosos para continuar a ter um diálogo positivo com a China sobre um acordo comercial abrangente e sentir que o futuro entre os dois países vá ser muito brilhante”, lê-se ainda no tweet do Presidente dos Estados Unidos.