Antigo deputado russo morto no centro de Kiev

por Andreia Martins - RTP
Valentyn Ogirenko - Reuters

Denis Voronenkov foi deputado da Duma, a câmara baixa do Parlamento russo e estava exilado na Ucrânia. Foi abatido a tiro esta quinta-feira, ao início da tarde.

Denis Voronenkov foi assassinado esta quinta-feira em pleno centro de Kiev, perto da entrada de um hotel. Segundo a polícia da capital ucraniana, o guarda pessoal de Voronenkov também ficou ferido na sequência deste ataque.

Mais acrescenta que o guarda pessoal respondeu aos disparos, tendo conseguido atingir o atirador inicial, que acabou por morrer já no hospital.

No ano passado, o antigo deputado renunciou à cidadania russa. Estava exilado na capital ucraniana desde finais de 2016, depois de ter denunciado que estava a ser "perseguido" pelas agências russas de segurança.

No exílio, Denis Voronenkov criticou por diversas ocasiões a anexação da Crimeia pela Rússia. Era ainda testemunha num processo que visa Viktor Yanukovych, antigo presidente da Ucrânia, próximo de Vladimir Putin.

O antigo deputado tinha 45 anos e mudou-se para a Ucrânia com a mulher, Maria Maksakova, que também integrava o Parlamento russo.
"Terrorismo de Estado"
Em reação ao incidente, Petro Poroshenko, o atual Presidente ucraniano, refere que se tratou de um ato de "terrorismo de Estado" orquestrado pelo Kremlin.

"Este assassinato pérfido no centro de Kiev é um ato de terrorismo de Estado por parte da Rússia, que ele tinha abandonado devido às suas convicções politicas", reitera o chefe de Estado ucraniano.

Poroshenko considerou ainda que a morte do antigo deputado russo e o incêndio num depósito de armas da cidade de Balakliïa, no leste da Ucrânia, precisamente no mesmo dia, não foi obra do acaso.

A explosão em causa não provocou qualquer vítima, mas obrigou à retirada de 20 mil pessoas num raio de cinco quilómetros e já foi considerada por Kiev como um ato de "sabotagem" por parte de rebeldes pró-russos.
Moscovo nega acusações "absurdas"
Em reação às declarações do Presidente ucraniano, Moscovo desmente qualquer ligação ao assassinato de Denis Voronenkov.

"Acreditamos que todas as falsidades exageradas que se fazem ouvir sobre o envolvimento russo são absurdas", declarou um porta-voz do Kremlin poucas horas após o ataque.

Ilya Ponomarev, também ele antigo deputado na Rússia e atualmente exilado na Ucrânia, esclarece que o Voronenko ia ter com ele quando foi assassinado.

"Voronenko não era um ladrão, mas sim um investigador fatalmente perigoso para as autoridades russas", escreveu no Facebook.

Para José Milhazes, especialista em assuntos de Leste, a morte do ex-deputado tem um caráter político demarcado e visa "eliminar uma testemunha muito importante nas relações entre a Rússia e a Ucrânia".
 

O comentador da Antena 1 sublinha que Denis Voronenkov "conhecia muito bem" os meandros da corrupção na Rússia, até porque trabalhou no sistema judicial e em grupos de combate à corrupção.

No passado dia 16 de março assinalaram-se três anos sobre o referendo que ditou a anexação da Crimeia, na Ucrânia, pela Rússia, uma ação condenada desde logo pela comunidade internacional e que levou à imposição de várias sanções económicas a Moscovo que vigoram até hoje.

Desde então, a tensão entre os dois paises desencadeou um conflito na região leste da Ucrânia, com zonas ocupadas e influenciadas por milícias separatistas pró-russas. O conflito militar entre russos e ucranianos, que se iniciou logo um mês após a anexação, já provocou mais de dez mil mortos.
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