China. Rede de perfis falsos procurava aumentar influência chinesa e atacar opositores

por Joana Raposo Santos - RTP
As redes sociais já eliminaram os perfis falsos que pertenciam a esta rede. Dado Ruvic - Reuters

Uma rede de mais de 350 perfis falsos em redes sociais procurou, até ser detetada, aumentar a influência do Governo chinês e descredibilizar os seus críticos. O alerta foi levantado por uma entidade independente dedicada a identificar e expor operações de desinformação. Os Estados Unidos eram o principal alvo da rede, que procurava deslegitimar o Ocidente.

O Centro para a Resiliência da Informação (CIR, na sigla original) descobriu que uma rede composta por quase quatro centenas de perfis falsos fez circular caricaturas de várias figuras de críticos do Partido Comunista chinês, entre as quais o magnata e ativista Guo Wengui.

Outras figuras que protagonizavam os cartoons são a virologista Li-Meng Yan, que durante a pandemia acusou o Governo chinês de omitir informações sobre o novo coronavírus, e Steve Bannon, antigo conselheiro do ex-presidente norte-americano Donald Trump.

Ironicamente, estas três personalidades foram, no passado, acusadas de terem difundido informações falsas, incluindo no que diz respeito à pandemia de covid-19.

Os perfis falsos partilhavam, essencialmente, conteúdos sobre os Estados Unidos, nomeadamente sobre assuntos polémicos como políticas raciais ou leis acerca de armas.

Uma das narrativas impulsionadas pela rede era a de que os EUA possuem um fraco currículo a nível de Direitos Humanos. Nesse sentido, as contas falsas partilharam exemplos como o de George Floyd, afro-americano que morreu às mãos da polícia no ano passado, ou o da crescente discriminação contra asiáticos.

As mesmas contas negavam, por outro lado, as alegadas violações de Direitos Humanos por parte do Governo chinês na região de Xinjiang, onde especialistas dizem que a China já prendeu pelo menos um milhão de muçulmanos. “São mentiras fabricadas pelos Estados Unidos e pelo Ocidente”, frisavam os perfis falsos.


Um dos cartoons entretanto eliminados das redes sociais, com representações de Steve Bannon, Li-Meng Yan e Guo Wengui.

“O objetivo da rede parece ser deslegitimar o Ocidente e ampliar as narrativas pró-China”, salientou o autor do relatório do CIR, citado pela BBC.

A rede “publicou diversos conteúdos anti-EUA, por exemplo aplaudindo a ‘derrota’ norte-americana com a retirada de militares do Afeganistão, ou pintando os Estados Unidos como um aliado fraco cuja ajuda à Índia [durante a pandemia] foi inadequada”, disse, por sua vez, Ira Hubert, da empresa de análise de redes sociais Graphika.

Segundo o relatório do CIR, várias das contas falsas espalhadas pelo Facebook, Twitter, Instagram e YouTube utilizaram fotografias de perfil criadas através de inteligência artificial. Outras terão roubado perfis já existentes de utilizadores reais.

Não existem provas concretas de que a rede em questão esteja diretamente ligada ao governo chinês. O CIR frisa, porém, que esta se assemelha a outras redes de perfis falsos pró-China que foram, entretanto, eliminadas pelas próprias redes sociais.
Redes sociais já eliminaram perfis falsos
O Centro para a Resiliência da Informação partilhou as conclusões do mais recente relatório com as redes sociais envolvidas, que se apressaram a reagir, eliminando os perfis falsos.

“Em setembro de 2019, removemos uma rede de atividade de spam que publicava conteúdos políticos falsos essencialmente em chinês. Esta rede praticamente não teve influência na nossa plataforma, e continuamos a trabalhar com investigadores e colegas da indústria para detetar e bloquear tentativas de regresso, tais como a mencionada neste relatório”, declarou um porta-voz do Facebook à BBC.

Também o YouTube já eliminou as contas em questão por violarem as normas da comunidade, assim como o Twitter.
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