Comunidade judaica britânica condena anexação da Cisjordânia por Israel

por RTP
Reuters

O novo governo de coligação israelita deverá apresentar em julho uma estratégia para aplicar o plano da administração norte-americana para o Médio Oriente, que prevê a anexação por Israel do vale do Jordão e dos colonatos na Cisjordânia. Mas para alguns dos nomes mais conhecidos e respeitados entre os judeus britânicos este plano de anexação pode representar uma ameaça existencial para Israel.

O plano de Donald Trump prevê não só a anexação por Israel de colonatos e do Vale do Jordão na Cisjordânia ocupada, mas também a criação de um Estado da Palestina, num território reduzido e sem Jerusalém Oriental por capital - estratégia que a  maioria dos palestinianos contesta.

Numa carta sem precedentes, dirigida ao embaixador de Israel no Reino Unido, alguns dos mais relevantes judeus da comunidade judaica britânica alertaram para o risco de a anexação representar "uma ameaça existencial às tradições do sionismo na Grã-Bretanha e para Israel como o conhecemos".

Na mensagem enviada a Mark Regev, os signatários expressam "preocupação e alarme relativamente à proposta política de anexar unilateralmente áreas da Cisjordânia, conforme descrito no acordo de coligação do novo governo de Israel".

"Ainda estamos para ver um argumento que nos convença (...) de que a anexação proposta é um passo construtivo", escreveram os mais de 40 signatários - nos quais se incluem Ben Helfgott (um dos sobreviventes mais conhecidos do Holocausto na Grã-Bretanha), os historiadores Simon Schama e Simon Sebag Montefiore, o ex-secretário conservador dos Negócios Estrangeiros Malcolm Rifkind, o advogado Anthony Julius; a filantropa Vivien Duffield, o cientista Lord Robert Winston, a ex-deputada Luciana Berger, o colunista do Times Daniel Finkelstein e o autor Howard Jacobson.

Os autores do documento garantem que estas preocupações são "compartilhadas por um grande número de membros da comunidade judaica britânica, incluindo muitos da liderança atual, mesmo que optem por não expressá-las".

Na opinião da comunidade judaica do Reino Unido, este plano pode resultar numa "vitória pírrica que intensificaria os desafios políticos, diplomáticos e económicos de Israel, sem valer algum benefício tangível".

"Teria consequências graves para o povo palestiniano, obviamente. A posição internacional de Israel também sofreria e [a anexação] é incompatível com a realidade de Israel como um Estado judeu e democrático".

Os signatários alertaram ainda o embaixador de que muitos "ex-militares e oficiais de segurança israelitas declararam inequivocamente que consideram tratar-se de uma atitude imprudente que teria consequências negativas para a segurança de Israel e para o seu futuro como uma democracia judaica".

Se o Governo israelita avançar com este plano, "isso será visto como evidência da rejeição por Israel da paz negociada e de uma solução de dois Estados", o que "ameaça intensificar as tensões entre os palestinianos - cujo presidente já anunciou a suspensão de acordos com Israel e os EUA -, fragilizar a Autoridade Palestiniana quase fatalmente, desestabilizar a paz estrategicamente importante entre Israel, a Jordânia e o Egito e minar a crescente cooperação entre Israel e os sunitas".

No entanto, os signatários salientam que não se opõem "a que Israel tome medidas unilaterais, se tais medidas aumentarem a segurança de Israel, garantirem a paz e protegerem a existência de Israel como um Estado judeu e democrático". Mas "as propostas de anexação não atendem a nenhum desses critérios".

"Os danos à reputação internacional de Israel, contudo, serão enormes", diz ainda a carta, lembrando que o Governo britânico se opõe ao plano de anexação e que a medida proposta pode reforçar os pedidos de boicote e as sanções contra Israel.

Além disso, "o impacto sobre os judeus da Diáspora e o relacionamento destes com o Estado de Israel também seria profundo", frisam. "A comunidade judaica britânica é uma comunidade predominantemente sionista, com um compromisso apaixonado por Israel. Nós defendemos orgulhosamente Israel, mas fomos ajudados a fazê-lo pelo status de Israel como uma democracia liberal, defendendo-se como possível, mas comprometida em manter seu status judeu e democrático".

Mas uma política de anexação pode pôr tudo isto em causa, reforçam. Por isso, embora admitam que em diversas ocasiões defenderam as questões israelitas no Reino Unido, não poderão defender as anexações da Cisjordânia.

Dirigindo-se a Mark Regev, a comunidade judaica britânica pediu que fosse transmitida a sua opinião "de que é uma política que não apenas carece de mérito, como também representaria uma ameaça existencial às tradições do sionismo na Grã-Bretanha e em Israel como as conhecemos".

Esta sexta-feira, algumas dezenas de palestinianos manifestaram-se em Tulkarem e noutras cidades da Cisjordânia ocupada em protesto contra o projeto de Israel de anexar partes deste território.

Em Tulkarem, no norte da Cisjordânia, os manifestantes seguravam bandeiras palestinianas e gritavam ‘slogans’ contra a colonização israelita e o projeto de anexação.
Tópicos
pub