Crise humanitária na Ucrânia. ONU traça quadro de êxodo e devastação

por Carlos Santos Neves - RTP
“Combates, ataques aéreos, bombardeamentos de artilharia e violência generalizada em várias zonas do país mataram 227 civis, incluindo 15 crianças”, lê-se no relatório do Gabinete da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários Zoltan Balogh - EPA

A invasão russa da Ucrânia já causou, desde 24 de fevereiro, pelo menos 227 mortes entre a população civil, incluindo 15 crianças. Outros 525 civis, entre os quais 28 crianças, sofreram ferimentos. Os números estão no mais recente relatório do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. O documento assinala que os constantes bombardeamentos estão a comprometer “o acesso a água, comida, cuidados de saúde e outros serviços básicos”.

A estrutura para os assuntos humanitários cita dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que cobrem o período de 24 de fevereiro a 1 de março.

Além da destruição sistemática de infraestruturas, que está a dificultar a assistência às populações civis ucranianas, a ONU enfatiza que a guerra levou já mais de 870 mil pessoas a cruzarem as fronteiras do país em busca de segurança: “A maioria das pessoas que fogem da Ucrânia são mulheres, meninas e meninos”.

“Seguir o número de deslocados internos é desafiador devido à fluidez da situação. A principal companhia ferroviária da Ucrânia que está a facilitar evacuações notou que, até 28 de fevereiro, mais de 500 mil pessoas haviam sido transportadas, a maior parte do leste e do centro do país”.

Já esta quinta-feira, o alto comissário para os Refugiados veio indicar que a invasão russa terá lançado em fuga mais de um milhão de refugiados na primeira semana da guerra.


"Em apenas sete dias assistimos ao êxodo de um milhão de refugiados da Ucrânia para os países vizinhos", escreveu Filippo Grandi no Twitter.A ONU alerta para a necessidade urgente de “produtos médicos” em território ucraniano, onde “as pessoas precisam também de acesso a comida e de apoio” para “necessidades domésticas”.


O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários assinala que “as necessidades humanitárias das pessoas afetadas, aquelas que estão em movimento e internamente deslocadas, são críticas”.

“A preocupação-chave de proteção é facilitar a retirada segura e digna de pessoas vulneráveis, incluindo pessoas com deficiências, pessoas mais velhas, mulheres e crianças”, lê-se no relatório agora divulgado.
Dados de 1 a 2 de março

Só nos últimos dois dias, observa o Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários, morreram ou ficaram feridos pelo menos 202 civis. O maior número de vítimas pertence às regiões de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, seguindo-se o centro, o sul e o norte.

A estrutura das Nações Unidas sublinha que “os números reais” deverão ser “consideravelmente maiores”, levando em linha de conta o “atraso na recolha de informação de algumas zonas onde decorrem hostilidades” e o facto de faltar ainda corroborar “muitos relatos”.“Entre 24 de fevereiro e 1 de março, o ACNUR (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados) registou 874 mil refugiados ucranianos, com a Polónia, a Hungria e a Moldávia como os três principais países de destino”.

A ONU continua a receber informações de “danos em infraestruturas civis, especialmente edifícios residenciais”. Designadamente “nas cidades densamente habitadas de Donetsk, Chernihiv, Horlivka, Kharkiv, dentro e em redor de Kiev, Mariupol, Sievierodonetsk e Zhytomyr”.

“Os relatos de disrupções nas linhas de eletricidade, bem como nos sistemas de abastecimento de gás e água são alarmantes, especialmente porque as temperaturas na Ucrânia ainda estão largamente abaixo de zero. Hospitais e escolas estão também alegadamente a ser alvo de disparos constantes, incluindo em áreas em ambos os lados da linha de contacto no leste da Ucrânia, onde o conflito continua a ser mais ativo”.

Em simultâneo, as interrupções das linhas de assistência humanitária “continuam a fazer aumentar a vulnerabilidade das populações afetadas a doenças transmissíveis, tal como a covid-19, a poliomielite e o sarampo”, enfatiza-se no relatório. As necessidades de oxigénio “são críticas, especialmente para doentes hospitalizados”.
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