Deputado de Macau critica diretiva da TDM que impede divulgação de informações anti-China

por Lusa
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O deputado pró-democracia Sulu Sou criticou hoje uma diretiva da Teledifusão de Macau (TDM) que proíbe os jornalistas de português e inglês de divulgarem informações e opiniões contrárias às políticas da China, confirmada à Lusa por um jornalista.

"As mãos das autoridades já esperavam chegar ao mundo português e inglês como [fizeram com] os meios de comunicação chineses há cerca de 8/10 anos", criticou.

O mais jovem deputado de Macau, de 29 anos, disse ainda que, apesar de a Teledifusão de Macau (TDM) receber dinheiro público, o "Governo deve respeitar altamente o profissionalismo e a autonomia dos meios de comunicação".

Um jornalista da Teledifusão de Macau (TDM), que pediu para não ser identificado, disse hoje à Lusa que pelo menos um editor já colocou o lugar à disposição.

O não cumprimento das novas diretrizes dá despedimento por justa causa, adiantou.

A mesma fonte disse ainda que os jornalistas aguardam esclarecimentos por parte da comissão executiva.

A Lusa tentou hoje obter esclarecimentos junto da comissão executiva da TDM, mas ainda não obteve resposta.

Um dia antes, questionados pela Lusa, o diretor e o diretor adjunto de informação e programas portugueses na TDM, João Francisco Pinto e Gilberto Lopes, respetivamente, escusaram-se a comentar o caso por se tratar de assuntos internos.

Os cerca de 40 jornalistas de língua portuguesa e inglesa foram notificados para comparecer na quarta-feira de manhã para uma reunião com a direção de informação.

De acordo com a mesma fonte, entre os pontos que foram transmitidos verbalmente pela direção de informação na reunião, também veiculados hoje por órgãos de comunicação em língua portuguesa em Macau, constam diretrizes como: A TDM divulga e promove o patriotismo, o respeito e o amor à pátria e a Macau; A TDM é um órgão de divulgação da informação do Governo Central da República Popular da China e de Macau; O pessoal da TDM não divulga informação ou opiniões contrárias às políticas do Governo Central da China e apoia as medidas adotadas por Macau.

A Teledifusão de Macau assegura o serviço público no território, cuja língua portuguesa também é a oficial, conta com canais de televisão em português, inglês e chinês e ainda com rádio em língua portuguesa e chinesa.

Tal como foi defendido na Assembleia Nacional Popular chinesa, na semana passada, e apoiado publicamente pelo poder executivo de Macau, a carta que foi lida aos jornalistas aponta ainda que a TDM apoia o princípio fundamental de que a Região Administrativa Especial de Hong Kong é governada por patriotas.

Em duas entrevistas consecutivas no início da semana, a primeira à televisão estatal chinesa, CCTV, e a segunda à China News Service, a segunda maior agência de notícias estatal da China, a tónica do discurso do chefe do Governo, Ho Iat Seng, foi a garantia do patriotismo em Macau, ensinado desde a infância, e que a base da educação no território e em Hong Kong tem de ser patriota para não ser influenciada pelo estrangeiro.

Durante a reunião na TDM foi dito ainda que para a concretização destes objetivos, a Comissão Executiva fará os ajustamentos necessários ao nível da sua estrutura, pessoal e programação.

Um dia antes de apresentarem as novas diretrizes, que também incluem o despedimento por justa causa pelo incumprimento desta nova política, segundo o Jornal Tribuna de Macau, João Francisco Pinto e Gilberto Lopes viram os seus contratos renovados por mais seis meses, quando o habitual é que essa renovação seja por um prazo de um ano.

A transferência da administração de Macau ocorreu no final de 1999, pouco mais de dois anos depois de a China ter recuperado a soberania sobre a antiga colónia britânica de Hong Kong.

Em ambos os casos, Pequim aplicou o princípio "Um País, Dois Sistemas", que permitiu a Hong Kong e Macau manterem o sistema capitalista e o seu modo de vida, incluindo direitos e liberdades de que gozavam as respetivas populações.

Na lei básica de Macau, miniconstituição do território que deverá estar em vigor até 2049, lê-se que "os residentes de Macau gozam da liberdade de expressão, de imprensa, de edição, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação".

As duas regiões têm autonomia em todas as áreas, exceto na diplomacia e na defesa.

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