Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Estudo descobre forma de prever gravidade da Covid-19 antes de se contrair a doença

por Sérgio Alexandre

Um biomarcador usado para medir o nível de saúde celular permite calcular com precisão a probabilidade de uma pessoa desenvolver um caso mais ou menos grave de Covid-19 mesmo antes de contrair a doença, revela um estudo científico agora publicado. E basta o simples teste da zaragatoa naso-faríngica para recolher toda a informação necessária.

A investigação foi realizada por uma equipa internacional, com participação portuguesa, liderada por Rajan Gogna, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Copenhaga, Dinamarca.

Segundo Gogna, esta descoberta poderá ter efeitos positivos nas próximas fases da gestão da crise pandémica, ao permitir identificar o potencial de gravidade de um determinado caso de Covid na sua fase inicial, possibilitando uma resposta hospitalar mais rápida, orientada e eficaz, contribuindo para a melhor organização dos sistemas de saúde.

Por outro lado, nos países que estão a ter dificuldades no controlo da pandemia ou nos que têm sistemas de saúde mais débeis e com menor acesso a vacinas, a aplicação das conclusões deste estudo possibilitará a orientação dos recursos disponíveis para as pessoas com maior propensão para contrair Covid mais severa e, assim, conter a doença com maior efetividade.
hFwe-Lose, a chave
É o nível de saúde celular dos pulmões que define se uma pessoa sofrerá um caso mais ou menos grave de Covid-19 e essa leitura pode ser feita antes de se contrair a doença, explica o autor principal do estudo. Rajan Gogna refere-se ao hFwe-Lose, uma proteína que recentemente se verificou ser um biomarcador que assinala a competência das células pulmonares.

O organismo humano tem um sistema que promove a extinção de células inviáveis e também das que, embora viáveis, estejam a funcionar a um nível abaixo do necessário a uma saúde celular perfeita. O biomarcador hFwe-Lose identifica essas células "sub-ótimas", que aumentam com a idade ou em pessoas que sofrem de hipertensão, obesidade, doença pulmonar obstrutiva crónica, diabetes e outras doenças já conhecidas como fatores de risco agravado num quadro de Covid-19.

A investigação analisou tecido pulmonar infetado proveniente de vítimas fatais de Covid-19 e confirmou uma grande acumulação de hFwe-Lose em áreas onde se verificou morte celular. Comparando amostras recolhidas em pessoas com todas estas características, mas divididas entre doentes de Covid e não-doentes de Covid, o estudo determinou que o hFwe-Lose tinha uma expressão “significativamente maior” no primeiro grupo.

Estes dados sugerem que a expressão deste biomarcador nas vias aéreas inferiores é “claramente” indicadora de um caso de Covid-19 mais severo ou até mortal, mas, pela maior dificuldade na obtenção de amostras de tecido, não é um bom método de prognóstico.

Foram também estudadas amostras recolhidas por via da colheita naso-faríngica (o teste do cotonete) em pacientes iniciais de Covid e concluiu-se que a expressão de hFwe-Lose nessas colheitas é “consistente” com os dados recolhidos no trato respiratório inferior.

Assim, os corriqueiros testes da zaragatoa foram fixados por este estudo como uma ferramenta essencial, porque, permitindo uma fácil recolha de amostra, contêm também toda a informação necessária para que se consiga prever a gravidade de um determinado caso de Covid.

Rajan Gogna afirma ainda que o método de prognóstico agora proposto é "mais certeiro" do que o atual, que resulta de uma combinação de outros biomarcadores (Ferritina, D-dímero, proteína reativa C e rácio neutrófilos/linfócitos) com fatores como a idade do doente e comorbidades associadas.
pub